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USP desenvolve mapa colaborativo para medir terremotos no Brasil

Apelidado de "Sentiu aí?", o mapeamento usa dados fornecidos pela população para entender até onde (e com qual impacto) chegam os tremores brasileiros

Por Felipe Germano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 jan 2017, 18h44 - Publicado em 3 jan 2017, 20h23

2017 começou com um terremoto. Um tremor que marcava 4.6 na escala Richter teve seu epicentro próximo dos municípios de  Presidente Vargas e Vargem Grande, no Maranhão. O tremor foi suficientemente forte não só para ser sentido na capital do estado, que fica há 85 km dali, como também a de um estado vizinho, mesmo com Teresina estando a quase 215 km de distância.

Não demorou para o assunto tomar a internet (Teresina e Therremoto viraram, quase que instantaneamente, alguns dos assuntos mais comentados do Twitter) – e é justamente usando a web que pesquisadores estão tentando entender a extensão desse tremor. O Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo está usando um mapa colaborativo para traçar o impacto do terremoto.

A plataforma, apelidado de Sentiu aí? está no ar desde abril do ano passado, e vem sendo usada para complementar a base de dados brasileira de tremores. “Hoje temos uma rede sismográfica no Brasil. São 80 estações atreladas a centros  da USP, Observatório Nacional, UnB e UFRN, mas há locais em que a cobertura não é tão grande. Então, esse tipo de ferramenta ajuda a cobrir esses buracos”, afirma Jackson Calhau, analista no Centro de Sismologia da USP.

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Neste caso específico, a ferramenta foi ainda mais importante. A estação mais próxima do tremor, que fica em Rosário, há cerca de 50 km de Belágua, estava offline na hora do terremoto. E os primeiros dados chegaram justamente por causa dos moradores. “Essa estação funciona via satélite e por algum motivo, talvez por uma nuvem que passava na hora, ela parou de retransmitir por alguns minutos. Agora já conseguimos recuperar todos os dados, mas enquanto isso não acontecia, o mapa colaborativo nos ajudou a calcular onde era o epicentro do tremor. E agora, ele nos ajuda a refinar ainda mais os números”, conta Jackson.

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A ferramenta funciona de maneira simples. No site, a pessoa que sentir um tremor pede para reportar o evento. Depois disso uma série de questões simples são feitas: “Onde você estava?”, “Em que horário?”, “Você estava dormindo?”, “Mais alguém perto de você percebeu?”, “Te deu tontura?”, “Dava pra ficar de pé?” etc. O objetivo aqui é tentar mensurar a força do tremor. Como ninguém tem um medidor de escala Richter na cômoda, os levantamentos ajudam os pesquisadores a saber em que áreas o impacto foi maior ou menor, calculando uma média das repostas de regiões próximas.

Mas não adianta nem tentar fazer uma graça e reportar terremotos falsos. A ideia é auxiliar o sistema principal, e não se guiar por ele. Dessa forma, as informações mentirosas são rapidamente percebidas. “A gente tem alguns parâmetros que já são bem conhecidos. Um sismo com magnitude 2 não vai chegar a 400 km de distância, então a gente sabe que, se houver algum tipo de notificação desse tipo, foi outra coisa ou não foi nada”, afirma Jackson.

O sistema ainda nos ajuda a lembrar que, na verdade, o Brasil não é tão imune assim a tremores. Só em 2016 tivemos 221 terremotos em terras tupiniquins, poucos tão fortes quanto o desta terça-feira. O Brasil está no centro de uma placa tectônica, mas isso não elimina os tremores por aqui. “Às vezes, a tensão das laterais da placa são liberadas no centro. É justamente este o caso agora”, explica o analista.

Os pesquisadores precisam das informações fornecidas pela população entender melhor nosso território, garantindo mais segurança para os próximos eventos. “A gente já é capaz de fazer um mapa sismológico brasileiro. Esse levantamento nos aponta, por exemplo, que se uma região tem muitos tremores, talvez não seja uma boa ideia fazer uma barragem por ali”, explica. “É uma troca, uma informação social importante para o brasileiro”.

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