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Por Alexandre Versignassi
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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A velhice começa aos 20 e poucos

É virtualmente impossível passar a gostar de bandas novas depois de uma certa idade. E a culpa é da biologia.

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
27 mar 2017, 19h49

Ontem, enquanto os Strokes tocavam no Lolapalooza, escrevi no Facebook que eles eram “a última banda da minha vida”. Que “eu tinha 23 anos quando saiu Is This It, o primeiro (e quase único) álbum deles, e não fazia a menor ideia de que a neurociência estava certa – certa quando dizia que depois dos 23, 24 anos, vc pode até seguir gostando de uma ou outra coisa nova, mas nunca mais vai amar porcaria nenhuma.”

Bastante gente me perguntou de onde veio a afirmação. Então respondo por aqui. A fonte principal é um estudo da Universidade da Virgínia, publicado em 2009. A pesquisa acompanhou 2 mil pessoas, de 18 a 60 anos, ao longo de 7 anos. De tempos em tempos, os voluntários da pesquisa tinham de resolver quebra-cabeças, interpretar textos, lembrar detalhes de histórias que tinham acabado de ouvir e encontrar padrões em desenhos diferentes.

Resultado: em 75% dos casos, as notas mais altas eram obtidas por pessoas de 22 anos. Os resultados seguiam bem altos entre os voluntários de 23, 24, 25, 26. Nos de 27, porém, começava um padrão surpreendente: as notas começavam a baixar abruptamente.

“Do ponto de vista evolutivo, por volta dessa idade você já deveria ter se reproduzido. E, por isso, já estaria chegando a hora de se aposentar”, disse o neurologista Paulo Henrique Bertolucci, da Unifesp, para a SUPER, quando reproduzimos o estudo da Universidade da Virgínia nas nossas páginas. E de fato: as pesquisas com ossadas de hominídeos mostram que a expectativa de vida deles não passava muito da casa dos 20 anos. Passamos 6 milhões de anos da nossa evolução como espécie morrendo jovens – a expectativa de vida só melhorou há coisa de 10 mil anos, com o desenvolvimento da agricultura; e o salto mesmo só veio no século 20, com a descoberta dos antibióticos. Como a natureza é extremamente econômica, ela não se preocupou em manter o nosso auge funcional para muito além dos 20 anos. Ou, em termos mais diretos: ao longo de milhões de anos não fazia diferença você ter um cérebro no auge aos 40, 50 , 60 anos. Nessa idade, afinal, você já estaria morto mesmo. Então quem eventualmente tivesse nascido com a sorte de manter a capacidade mental no pico por décadas mal teria a chance de passar essa característica para a frente. E não teve mesmo. Nisso, acabamos nivelados por baixo, com o cérebro começando a declinar dentro da faixa etária com que os nossos ancestrais morriam. Esses foram os genes que venceram a corrida da seleção natural. Paciência.

Não que o estudo só tenha trazido más notícias. Eles observaram que a memória segue intacta até os 37, e que as “habilidades baseadas em conhecimento cumulativo”, como a habilidade para escrever, ensinar, falar em público, segue crescendo sem parar pelo menos até os 60 anos. Mas as paixões, ao que parece, seguem a mesma regra do auge cognitivo: elas baixam de intensidade depois que você atinge a expectativa de vida que um hominídeo tinha – daí ser cada vez mais difícil virar fanático por uma banda nova depois que você já não é mais tão novo. Se você ainda é jovem o bastante, então, cuide bem do que você escuta agora: você está condenado a continuar gostando disso pelo resto da vida.

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