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O piadista do Vaticano

Poggio Bracciolini redescobriu em documentos antigos a arte de contar piadas e virou o comediante da Renascença

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h04 - Publicado em 24 jan 2011, 22h00

Álvaro Oppermann

Um italiano chega a um mosteiro alemão e pergunta: “Vocês têm livro de humor grego?” Parece anedota, mas situações como essa eram comuns para Gian Francesco Poggio Bracciolini (1380-1459). Secretário de 8 papas, o funcionário graduado do Vaticano aproveitava as viagens de trabalho para praticar seu hobby: vasculhar bibliotecas. Entre pilhas de manuscritos em decomposição, Poggio localizou e copiou valiosas obras de gregos e romanos perdidas havia séculos. Mas seu grande achado foi uma coleção de piadas.

No século 15, elas eram mesmo item de colecionador. Abundantes e populares até o fim da Antiguidade – o autor romano Suetônio menciona 150 coletâneas à disposição de seus contemporâneos -, foram sendo banidas e esquecidas, vítimas da moral do cristianismo medieval.

Daí a alegria de Poggio quando encontrou, em um mosteiro no sul da Alemanha, o lendário Philogelos (“Amante do Riso”), uma antologia de humor grego do século 4. Seus contos de escatologia, adultério e burrice, que hoje eliminariam humoristas do Show do Tom, eram flashbacks hilariantes para a sombria Europa medieval. “Com a divulgação do Philogelos, a piada nasceu de novo, e Poggio foi o seu parteiro”, escreveu seu biógrafo, William Sheperd, ele mesmo um precursor do humor involuntário.

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Em 1451, aos 70 anos, Poggio finalmente publicou sua própria obra humorística. O Liber Facetiarum (“Livro da Jocosidade”), ou apenas Facetiae, era uma coleção em latim de 273 anedotas, a primeira desde o Império Romano. Piadas hoje meio chochas (“Como eu quero que o barbeiro corte meu cabelo? Em silêncio!” ou “A esposa convidou o marido para jantar ou fazer amor… e não tinha comida em casa!”) tornaram seu autor a sensação nas cortes italianas.

Além do ineditismo, também contribuiu para o sucesso que os protagonistas das piadas quase sempre usassem batina. Poggio chegou a publicar frases como: “Os piores homens vivem em Roma, e os piores entre eles viram padres. Os piores padres viram cardeais. E o pior cardeal vira papa”. E o que dizia o Vaticano? Nada. Aliás, o Facetiae era livro de cabeceira de Pio 2º, que iniciou seu papado em 1458. Especula-se que a “licença para brincar” de Poggio vinha do medo que seus inimigos tinham de ser ridicularizados.

O piadista do Vaticano morreu em Florença e virou estátua de Donatello. A imagem de Poggio ficou na frente do famoso Duomo até 1569, quando foi parar no topo da fachada da catedral, “reciclada” como um dos 12 apóstolos. Poggio, crítico dos pecados da Igreja, certamente acharia graça na canonização.

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Grandes momentos

• Poggio também era um destacado calígrafo. Sua caligrafia foi a base para as fontes do tipo romano, que acabaram originando, entre outras, a onipresente Times New Roman.

• O Facetiae, livro de piadas de Poggio, foi copiado e plagiado por toda a Europa. Uma seleção inglesa da obra, Hundred Merry Tales, é citada na peça Muito Barulho por Nada, de Shakespeare.

• O piadista também era pródigo na arte de fazer filhos – foram 20 no total. Primeiro teve 14 com uma amante, até que, aos 56 anos, casou com uma moça de 18 e teve mais 6. Isso é que é bom humor.

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