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Acreditar é pior ou melhor?

Depende. A fé tanto pode levar a tragédias humanas quanto abrir um caminho para a paz e a harmonia entre os homens

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h35 - Publicado em 18 fev 2011, 22h00

Texto Tarso Augusto

Acreditar ou não acreditar em algum Deus? Essa talvez seja a pergunta mais difícil – e angustiante – da história. A cada mistério do Universo desvendado pela ciência, ou a cada cura milagrosa atestada até pela medicina, ateus e religiosos vão colecionando argumentos tanto para a defesa quanto para o ataque. Uns dizem que a crença no divino é um freio, um obstáculo para a evolução do homem. Outros garantem que é a salvação. Afinal, crer em Deus traz algum benefício para a humanidade? Algum prejuízo? Para que lado essa balança pesa?

MORTE SÚBITA

O primeiro argumento dos críticos da fé é muito simples: não precisamos dela para dar sentido à vida. A arte, a filosofia e a ciência seriam capazes de fazê-lo com muito mais consistência. Sigmund Freud (1856-1939), pai da psicanálise, dizia que a crença em Deus “é uma ilusão e deriva sua força do fato de atender a desejos instintivos”. Para ele, nos afastaríamos desse “estado de atraso” à medida que a ciência avançasse.

Outras mentes brilhantes, contudo, discordam de Freud. Para o escritor irlandês C.S. Lewis (1898-1963), um dos intelectuais mais influentes do século 20, intervenção divina seria a única explicação para o que ele chamava de “moralidade universal”: um padrão de comportamento que permeia a humanidade, independentemente de diferenças culturais ou religiosas entre os povos. “Deus sussurra em nossos ouvidos na prosperidade, mas, como somos maus ouvintes, não escutamos”, costumava dizer. “Então, Ele gira o botão do amplificador por meio do sofrimento. Aí, finalmente ouvimos Sua voz.”

De acordo com o filósofo e educador Mário Sérgio Cortella, professor do Departamento de Ciências da Religião na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, é um equívoco achar que a fé em Deus, como previu Sigmund Freud, um dia vai desaparecer. “A ciência não substitui a religião porque ela responde o ‘como’, mas nem sempre o ‘porquê’ das coisas. Quando um filho pergunta por que seu pai morreu, e o médico diz que foi por causa de um enfarto, essa explicação costuma ser insuficiente.”

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Questões existenciais à parte, a fé em Deus vira um problema quando é usada por extremistas religiosos para desencadear guerras, matar inocentes, censurar ou barrar o progresso da ciência (leia mais nas reportagens das págs. 46 e 58). “A história está cheia de exemplos”, diz o engenheiro José Colucci Júnior. Ateu e doutor em bioengenharia, ele trabalha para o Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA. “Galileu precisou renunciar ao heliocentrismo quando a Inquisição o ameaçou com a fogueira. Darwin, em crise com as próprias convicções, atrasou em 17 anos a publicação de sua teoria evolucionista. E, hoje, milhares de vidas talvez pudessem ser salvas se as pesquisas com células-tronco avançassem. Mas a Igreja simplesmente não deixa, porque considera que estamos nós brincando de Deus.”

O escritor português José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura, também é contundente na crítica ao que chama de “fator Deus”. “Não faltam ao espírito humano inimigos, mas esse [o fator] é um dos mais pertinazes e corrosivos”, escreveu num artigo publicado em jornais do mundo todo logo depois dos ataques de 11 de setembro de 2001. Da Faixa de Gaza ao Sri Lanka, do Iraque ao Afeganistão, muitos conflitos perderiam o sentido – segundo Saramago – se a fé em Deus sofresse uma “morte súbita”.


NEUROSE UNIVERSAL

Por mais corretos que pareçam os raciocínios de Colucci e Saramago, eles não abalam a convicção de quem prefere acreditar em um ser Todo-Poderoso. Como o teólogo Jorge Cláudio Ribeiro, professor da PUC de São Paulo. Para Ribeiro, guerras, atentados e quaisquer outros crimes praticados em nome de Deus são deturpações da fé e não expressam sua essência. “Ao preconizar paz e harmonia na Terra, a crença em Deus só pode fazer bem à humanidade.”

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O filósofo Mário Sérgio Cortella também defende a fé, apesar dos maus usos que alguns fazem dela. “A crença em Deus pode ser um instrumento de alienação e dominação, mas também de consolo e de libertação. Tudo depende da intenção de quem se utiliza dela.” A própria ciência, diz Cortella, está sujeita a essa lógica. “Ela também pode ser usada para o mal.” Bombas atômicas e armas químicas ou biológicas, segundo o filósofo, estão aí para não deixar dúvida.

A verdade é que, para encontrar aspectos positivos e negativos, seja na ciência, seja na religião, basta querer. Freud, entre muitas críticas à fé, também escreveu que quem a tem “está bem protegido contra certas doenças da mente, pois, ao aceitar a neurose universal, livra-se de construir uma neurose para si próprio”. E Colucci lembra que, sem a crença, muitas obras de caridade não existiriam.

Afinal, é melhor acreditar ou não acreditar em Deus? Provavelmente, jamais encontraremos a resposta definitiva.

Para saber mais

• Deus em Questão
Armand M. Nicholi Jr., Ultimato, 2005.

• Deus – Uma Breve História
John Bowker, Globo, 2002.

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