A Terra pode ter tido um anel que nem o de Saturno, sugere estudo
Há 500 milhões de anos, quando invertebrados já viviam nos oceanos, detritos de um asteroide gigante podem ter orbitado o nosso planeta. Entenda.
466 milhões de anos atrás, a Terra era provavelmente cercada por um anel de detritos muito parecido com o de Saturno. Essa formação pode ter existido por dezenas de milhões de anos, e influenciado no clima do planeta.
Essa é a hipótese de cientistas da Universidade Monash, em Melbourne, na Austrália, que acharam 21 locais de crateras formados por meteoritos durante o pico de impactos do período Ordoviciano (que durou de 488 mi a 443 mi anos atrás). Os buracos, segundo os astrônomos, foram criadas por objetos grandes que compunham esse anel ainda não identificado, puxados pela atração gravitacional da Terra e arrancados da órbita.
Mas de onde teria surgido o anel espacial da Terra? Os cientistas acham que um asteroide de 12 quilômetros de diâmetro (a extensão de um Everest e meio) passou tão perto do nosso planeta que foi destruído pela força gravitacional da nossa órbita. Seus restos viraram um anel de detritos.
Puxar um objeto gigante desses é difícil: a Terra consegue atrair algo dessa magnitude para uma órbita temporária em torno do planeta só de 10 em 10 milhões de anos.
O estudo foi publicado na revista Earth and Planetary Science Letters. Os cientistas também usaram dados de pesquisas passadas que mostravam registros de meteoritos em depósitos de calcário da mesma época do pico de impactos. Eles também ficam próximos à linha do Equador, outro sinal positivo para os cientistas. Mas por quê?
Friozinho na sombra do anel
O anel provavelmente se formava próximo da linha do Equador, e os locais das crateras eram todos próximos do paralelo central. Hoje, as crateras estão mais distantes do Equador por causa do movimento das placas tectônicas, que mudou a configuração dos continentes nos últimos 500 milhões de anos.
Se essas crateras não fossem relacionadas entre si, só frutos de impactos diferentes, a chance de todas caírem perto do Equador seria de uma em 25 milhões.
E como era viver sob o anel? Provavelmente bem mais gelado, por causa da sombra dos detritos espaciais. Os invertebrados que já habitavam o fundo dos oceanos naquela época passaram por um resfriamento global e as condições climáticas mais congelantes do último meio bilhão de anos.
Não dá para ter certeza se o anel foi o responsável por essas temperaturas extremas, mas é uma possível causa para a extinção em massa do Ordoviciano (a segunda maior da história da Terra, causada em parte pela glaciação).
Agora, seria preciso analisar os grãos de asteroides localizados em cada uma das 21 crateras. Com esses dados, eles poderiam comparar idades e composições para tentar entender se todos esses detritos vieram do mesmo asteroide gigante – e se, de fato, ele deu origem ao nosso anel temporário.