Cientistas recriam a tecnologia do lançador de teia do Homem-Aranha
A fibra sintética para grudar em objetos e movê-los foi criada a partir dos casulos dos bichos-da-seda e inspirada nas HQs do Amigão da Vizinhança.
Que atire a primeira pedra quem nunca sonhou em se pendurar pelos prédios depois de ler uma HQ ou assistir a um filme do Homem-Aranha. Na maioria das versões do herói, ele se locomove pelos arranha-céus de Nova York usando um atirador de teia que ele mesmo criou.
Para a alegria de nerds como este repórter, cientistas da Universidade Tufts, nos Estados Unidos, levaram o sonho das crianças a sério e criaram uma tecnologia de lançamento de teia. O fluido é disparado de uma agulha e imediatamente se solidifica. Fica parecido com uma corda.
Essa teia de aranha sintética, criada em laboratório, pode grudar nos objetos e também sustentá-los. Essas fibras aguentam objetos 80 vezes mais pesados que elas, como vidros de laboratório e parafusos de aço.
O material foi chamado de “fibra adesiva dinâmica” pelos pesquisadores. Tudo isso está descrito no estudo que divulgou a invenção, publicado no periódico Advanced Functional Materials.
Teia de aranha não é de aranha
Mesmo que seja muito parecida com a tecnologia desenvolvida nas HQs pelo Peter Parker, essa teia de aranha da Universidade Tufts não é de aranha, e sim de bicho-da-seda, que é a larva da mariposa Bombyx mori.
A fibra adesiva vem dos casulos de B. mori, que são colocados em uma solução líquida fervente até se dissolverem em seus componentes básicos. Um desses constituintes da seda é a fibroína, proteína insolúvel na água e a base para a “teia do Homem-Aranha”. A solução líquida, junto da fibroína e dos aditivos certos, como a dopamina (sim, uma versão sintética da molécula mensageira cerebral) pode virar uma fibra sólida quando exposta ao ar.
Aranhas, formigas, vespas, abelhas, borboletas, besouros, moscas e mariposas como a B. mori podem produzir seda em algum momento da vida. Porém, de todos esses animais, as aranhas detêm um controle praticamente exclusivo sobre sua seda. Elas conseguem controlar a rigidez, a elasticidade e as propriedades adesivas de suas teias. Agora, com o novo material, a ciência conseguiu chegar em um produto sintético parecido com o natural dos aracnídeos.
Inspiração nos quadrinhos
O pontapé para a pesquisa surgiu de um acidente, depois que o pesquisador Marco Lo Presti percebeu um material parecido com teia se formando no fundo de um frasco onde ele estava trabalhando com fibroína.
O cientista incrementou a solução com quitosano, um composto químico encontrado nos esqueletos de crustáceos que aumentou a força de tensão das fibras em 200 vezes. Além disso, as qualidades adesivas do material aumentaram em 18 vezes por causa da adição de uma solução tampão salina. O “tampão” significa que ela não muda de pH, independentemente da adição de qualquer ácido ou base.
Uma aranha que consegue disparar as teias assim é algo raríssimo na natureza, já que elas normalmente tecem a teia sem o propósito de alcançar e se aderir a um objeto. A inspiração para essa tecnologia, portanto, é 100% super-heroica. Mas ainda há um longo caminho para seguir se quiserem fazer um verdadeiro lançador de teia do Homem-Aranha. As teias naturais de aranhas são mil vezes mais fortes do que essas fibras sintéticas.