Novo estudo mostra que caranguejos também sentem dor
Pesquisa de universidade sueca mostrou que os caranguejos têm receptores de dor ligados ao cérebro, que nem os seres humanos.
Uma nova pesquisa da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, foi a primeira a provar que caranguejos sentem dor de forma parecido com os seres humanos. Os estímulos dolorosos são enviados para o cérebro dos caranguejos-verdes, onde a sensação é processada.
Os cientistas conseguiram, por meio de exames parecidos com o eletroencefalograma (EEG) que registra a atividade elétrica dos cérebros de humanos, identificar reações neurais claras a estímulos mecânicos ou químicos de dor. O estudo, publicado no periódico Biology, apresenta mais uma evidência para a existência de dor nos crustáceos.
Uma das motivações para pesquisar crustáceos decápodes – grupo que inclui camarões, siris, lagostas e caranguejos – é que esses frutos do mar não entram na legislação de bem-estar animal da União Europeia. Os pesquisadores acreditam que isso pode e deve mudar, já que novas descobertas como essa mostram que eles sentem e reagem à dor.
Receptores de dor nos crustáceos
Alguns estudos anteriores observaram a reação dos crustáceos a impactos mecânicos, choques elétricos ou ácidos entrando em contato com tecidos moles, como suas antenas. Os animais tocavam as áreas afetadas e tentavam evitar o perigo em repetições do experimento, o que levou os pesquisadores a assumir que eles sentiam algum tipo de dor.
Antes do estudo da Universidade de Gotemburgo, a literatura também já desconfiava da dor dos crustáceos. O escritor norte-americano David Foster Wallace escreveu um ensaio em 2004 chamado “Pense na lagosta”. Nele, o autor visita uma feira de lagostas para experimentar as iguarias, mas questiona se as gerações futuras vão considerar “as práticas de agronegócio e alimentares contemporâneas da mesma maneira como hoje enxergamos os espetáculos de Nero ou os experimentos de Mengele?”
Agora, o novo estudo sueco conseguiu provar que os caranguejos-verdes (Carcinus maenas) tem receptores de dor nos tecidos moles. A atividade cerebral aumentava sempre que um composto químico com potencial doloroso entrava em contato com o animal. A mesma coisa acontecia no cérebro quando pressão externa era aplicada sobre diversas áreas do corpo do caranguejo.
Os tecidos moles nas garras, antenas e pernas foram sujeitos a algum tipo de estresse, e todos eles apresentaram reação de dor correspondente no cérebro. A resposta cerebral era mais curta e forte no caso de impactos mecânicos, e mais duradoura nas situações de estresse químico.
Por causa das semelhanças anatômicas entre outros decápodes, é muito provável que todos eles, desde os pequenos camarões até as grandes lagostas, sintam dor e reajam a esses estímulos negativos para se proteger. Por isso, os pesquisadores defendem que se busque métodos mais humanizados para matar os crustáceos. Hoje em dia, eles podem ser cortados e cozinhados vivos.