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Do luxo ao lixo: Caranguejos eremitas usam lixo ao invés de conchas para morar

Resíduos humanos presente nos habitats e dificuldade de encontrar conchas naturais podem estar alterando o comportamento das espécies

Por Caio César Pereira
Atualizado em 15 mar 2024, 12h35 - Publicado em 6 fev 2024, 19h41

Não é de hoje que as ações humanas no mundo afetam o ecossistema do planeta. Além das mudanças climáticas causadas pela poluição atmosférica, a poluição por plástico também impacta de forma direta o ambiente. Um claro exemplo disso são as espécies de caranguejos eremitas que passaram a utilizar diversos tipos de lixo como sua casa.

Esse fenômeno não é novo. Há tempos imagens desses animais utilizando todo tipo de lixo plástico circulam pela internet – de peças de lego a tampas de desinfetante, bulbos de lâmpada ou latas de alumínio. Mas até que ponto eles estão deixando de utilizar conchas de outros animais para utilizar o lixo plástico?

Tentando responder essa pergunta, pesquisadores da Universidade de Varsóvia e da Universidade de Ciências da Vida de Poznań, ambas na Polônia, analisaram registros de imagens de caranguejos eremitas espalhadas pela internet. Utilizando uma ferramenta de levantamento de dados online chamada de IEcology, os pesquisadores analisaram 386 imagens de caranguejos eremitas tiradas por entusiastas e postadas online. 

Para a surpresa dos pesquisadores, a análise mostrou que das 386 fotos dos caranguejos analisadas, os animais estavam utilizando algum tipo de lixo como concha em 326. 

“Começamos a notar algo completamente fora do comum. Em vez de estarem adornados com uma bela concha de caracol, que é o que estamos acostumados a ver, eles estavam com uma tampa de garrafa plástica vermelha nas costas ou um pedaço de lâmpada”, conta Marta Szulkin, bióloga da Universidade de Varsóvia e uma das autoras do estudo.

Segundo ela, esse é um fenômeno de escala global. Das 16 espécies de caranguejos eremitas do mundo, pelo menos 10 já estão utilizando lixo como conchas artificiais. Um comportamento já registrado em todas as áreas tropicais do planeta.

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A escolha da concha

Os caranguejos eremitas, diferente dos outros tipos de caranguejos, utilizam conchas deixadas por outros animais, como caracóis marinhos, para a sua proteção. Isso porque a parte posterior do seu corpo, chamada de pléon (a parte do abdômen), é mole. Dessa forma, o animal precisa utilizar alguma concha para proteger o corpo, além de se esconder para se esconder de algum predador.

Durante o seu período de muda (ou ecdise), o caranguejo eremita, assim como outros crustáceos e insetos, troca de pele. Ele deixa seu antigo exoesqueleto para trás, e produz um novo. Assim, a cada 12 ou 18 meses, esses animais precisam buscar também uma nova concha para se abrigar e proteger.

Ainda não está claro para os pesquisadores o que tem levado esses animais a escolherem lixo. A escolha da concha depende de uma série de fatores, como o tipo, o tamanho e até mesmo a cor da concha (se forem cores muito chamativas, elas podem tornar o animal mais visível, e portanto, mais vulnerável a predadores).

Uma das hipóteses mais aceitas é na verdade uma junção de dois fatores. Além da poluição que está espalhando mais lixo no habitat desses animais, as populações de gastrópodes como os caracóis marinhos estão diminuindo, dificultando a escolha dos caranguejos por uma nova concha.

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A soma desses dois fatores pode ser explicar por que esses animais estão utilizando o lixo como alternativa. E o problema só aumenta. De acordo com certas projeções, a quantidade de lixo nos oceanos vai aumentar bastante. Os 171 trilhões de pedaços de plásticos já boiando nos oceanos pode triplicar até o ano de 2040.

Os pesquisadores não sabem ainda o quão nocivo pode ser a utilização do lixo por esses animais e o que os estão levando a essa mudança de comportamento. Novos estudos serão realizados para saber o quanto a utilização de lixo influência na vida e ecossistema dos caranguejos – e o impacto que isso pode trazer para a sua evolução.

Mas há esperança no fim do túnel. Um projeto de conservação em Okinawa, no Japão, chamado Make The Switch 4 Nature, vem espalhando dezenas de conchas pela costa do país.

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