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Por Alexandre Versignassi
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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Barreira comercial é suicídio

Uma canga, um celular, um lápis: qualquer produto envolve o trabalho de gente de todos os cantos do mundo. Não acabe com isso, Trump. #BlogDoVersi

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23 mar 2018, 17h53

Para confeccionar uma canga, você necessita de plantações de algodão na Índia, maior produtora mundial do fio, e operários no Vietnã, que transformam o algodão cru em malha usando máquinas fabricadas na Rússia. Se a malha requerer elastano, um subproduto do petróleo inventado por um francês, você vai precisar de uma plataforma de petróleo construída na Coreia, talvez instalada na Nigéria por uma empresa brasileira que contrata engenheiros angolanos e usa brocas alemãs para tirar o óleo lá de baixo. No fim, a malha é pintada com pigmentos à base de chumbo extraído na Mongólia e chega ao porto de Santos num navio Chinês.

Esse é o grau de cooperação involuntária que uma canga colorida de algodã necessita. E é também a releitura de um exemplo clássico usado para mostrar como o livre mercado funciona. Milton Friedman (1912-2006) criou a versão mais célebre desse experimento mental, ao mostrar toda a cadeia produtiva em volta de um lápis: você gente para cortar a madeira num lugar, minerar o grafite em outro, obter a borracha da bunda do lápis em mais outro… “Quando você compra um lápis”, disse o vencedor do Nobel de Economia de 1976, “você está trocando alguns minutos do seu trabalho por algumas frações de segundo do trabalho de milhares de pessoas. Gente que não fala a mesma língua, que segue religiões distintas. Gente que talvez se odiasse caso se encontrasse algum dia”. O fluxo global de mercadorias, porém, permite que todos trabalhem em parceria, sem sequer saber que estão fazendo isso.

Pense num celular típico. Tem meia tabela periódica lá dentro, e um mapa-múndi inteiro. Um único iPhone pode conter alumínio da Rússia, arsênico da China, bismuto do Vietnam, lítio da Bolívia, cobre do Chile, zinco da Austrália, tungstênio do Congo, ouro do Amapá.

Numa realidade assim, não há o que pensar: quanto menos barreiras comerciais, melhor para todo mundo. Por isso as medidas protecionistas de Trump têm derrubado as bolsas. As taxas de 25% no aço importado e de 10% no alumínio serão boas para as siderúrgicas dos EUA (e para as dos poucos países que seguem isentos, incluindo o Brasil). Mas só para elas. Todas as outras indústrias que precisam de aço ou alumínio como matéria prima nos EUA vão gastar mais do que antes. E tem as retaliações: China e União Europeia agora estudam sobretaxar o que importam dos EUA.

No fim, todos perdem. Só existem tantas cangas, lápis e smartphones no mundo por conta da liberdade comercial dos últimos 100 anos. Jogar isso por terra para salvar um punhado de empregos em meia dúzia de empresas é, como dizia Joelmir Beting, matar a vaca para acabar com o carrapato. Que a vaca sobreviva a Trump.

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