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Alexandre Versignassi

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.

Caso Mega-Sena: a maior aberração estatística da história.

A chance de alguém jogar três vezes o número vencedor da Mega, como aconteceu agora, é de uma em 125 mil bilhões de bilhões

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 5 jan 2018, 11h35 - Publicado em 4 jan 2018, 13h12

Dos 17 bilhetes premiados na Mega-Sena, três são de uma única lotérica, em Parelheiros, na Zona Sul de São Paulo. Isso já seria uma aberração, mas a Veja apurou que o buraco é ainda mais embaixo: uma única pessoa teria feito três apostas iguais, por engano, no meio de várias outras.

Se ela tivesse sido a única ganhadora, não faria diferença. Essa pessoa levaria os R$ 306,7 milhões com um bilhete ou com 10. Mas, como houve vários ganhadores, a história é bem diferente.

Com o prêmio em R$ 306,7 milhões, cada um dos 17 bilhetes premiados deu direito a R$ 18 milhões, certo? Se o apostador, ou apostadora, de Parelheiros tivesse feito um jogo só, teríamos 15 ganhadores, e cada um terminaria com R$ 20,4 milhões. Mas não. Ele fez três, então ganhou o direito a três das 17 “cotas” vencedoras. E levou R$ 54 milhões; o triplo do resto.

Para efeitos práticos, então, é como se esse sujeito tivesse ganhado três vezes na Mega-Sena. Não que isso tenha acontecido de fato. Ganhar, ele ganhou uma vez só. Mas a chance de apostar acidentalmente nos mesmos números dentro de um mesmo concurso, e cada um desses jogos acabar dando direito a um prêmio milionário, equivale a vencer na Mega três vezes. E isso é uma aberração estatística maior do que parece.

A chance de vencer na Mega com um jogo simples, de seis números (como foi o caso aqui) é de uma em 50 milhões. A de vencer duas vezes, porém, não é de 100 milhões, mas de 50 milhões vezes 50 milhões. Isso dá uma chance em 2 quatrilhões (o número 2 seguido de 15 zeros, ou 2 x 10ˆ15, em notação científica). A chance de ganhar três vezes, então, é de 50 milhões ao cubo. Ou seja: 125 sextilhões, ou 125 mil bilhões de bilhões – 125 x 10ˆ21.

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Para você ter uma ideia de quão grande é este número, imagine que, há 125 sextillhões de segundos, o Big Bang ainda não tinha acontecido. O Universo existe há 13,8 bilhões de anos. Isso dá “só” 430 quintilhões de segundos – um número mil vezes menor que a sorte do apostador de Parelheiros.

Em seu livro “O Universo Elegante”, o físico Brin Greene dá um exemplo bacana para explicar o tunelamento quântico – grosso modo, a propriedade que partículas subatômicas têm de desaparecer num lugar e aparecer em outro, como se tivessem atravessado uma parede. Greene mostra que tais aberrações até poderiam acontecer no mundo das coisas grandes. Você teria como atravessar uma parede se todas as zilhões de partículas que formam o seu corpo sumisse e reaparecessem do outro lado ao mesmo tempo. “Se você tentar atravessar um muro um vez a cada segundo, você vai ter de esperar mais tempo do que a idade corrente do Universo para ter uma boa chance de sucesso. Com paciência (e longevidade) eterna, porém, você acabaria aparecendo do outro lado, cedo ou tarde”, diz Greene.

É isso. Se o apostador de Parelheiros tivesse gasto sua sorte tentando atravessar um muro, tudo indica que ele teria conseguido. Agora, porém, ele vai ter de se contentar com seus R$ 54 milhões mesmo.

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Texto atualizado em 05/01/2018 

 

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