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Por Alexandre Versignassi
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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Teoria dos Jogos: a arma mais letal contra a máfia das empreiteiras

As palavras “Brasil” e “inteligência” não têm se bicado nos últimos 500 anos. Mais do que um país corrupto, este é um país burro, que glorifica a estupidez. Um país onde confundem burocracia com disciplina – quando burocracia, na verdade, é sintoma de desordem generalizada. Um país onde empulhadores se dizem “juristas”. Um país onde […]

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 dez 2016, 09h48 - Publicado em 21 jun 2016, 17h55

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As palavras “Brasil” e “inteligência” não têm se bicado nos últimos 500 anos. Mais do que um país corrupto, este é um país burro, que glorifica a estupidez.

Um país onde confundem burocracia com disciplina – quando burocracia, na verdade, é sintoma de desordem generalizada. Um país onde empulhadores se dizem “juristas”. Um país onde as auto-escolas que ensinam a dirigir estão entrando em extinção, porque temos uma máfia incentivando a compra da carteira de motorista, que te livra do incômodo de aprender a dirigir antes de obter uma licença para dirigir.

Bom, corta desse país burro e cheio de incentivos torpes para o momento mais importante da Lava Jato inteira: agora, que Odebrecht e OAS montam suas delações.

A atitude mais “brasileira” ali seriam as duas empreiteiras formarem um cartel de delação. Ambas falariam só o estritamente necessário para livrar seus executivos da cana. E sairiam para comemorar com uma orgia gastronômica no Fasano, felizes com suas tornozeleiras eletrônicas e garrafas de vinho de R$ 2 mil.

Mas, olha só, a procuradoria miou essa possibilidade. Os caras avisaram que só vão aceitar UMA das delações. OAS e Odebrecht vão entregar suas respectivas papeladas de confissões. Quem soltar mais sujeira vai jogar tênis em Angra. Quem ficar em segundo, mesmo tendo falado só 1% menos, apodrece na cadeia.

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Isso é pura Teoria dos Jogos, a ciência que lida com recompensas e incentivos entre humanos – e que foi obra de John Nash, o matemático que o Russell Crowie lá em cima interpretou em Uma Mente Brilhante.  No contexto da Lava Jato, funciona assim: a Odebrecht não vai aceitar que a OAS se livre dessa. E vice-versa. Não há incentivo mais poderoso para que AS DUAS falem de uma vez o que sabem. Sem lenga-lenga de advogado, sem empulhação, sem negociata. Ou fala tudo ou fala tudo. E torça para ter falado mais que o outro.

Essa situação é uma variante do “Dilema do Prisioneiro” – um conceito central na Teoria dos Jogos. No Dilema original, você tem dois prisioneiros que foram cúmplices num crime. Vamos chamá-los de Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro. Se Marcelo delatar Léo, é solto – mas só se Léo, que está em outra sala de interrogatório, não delatar Marcelo. Léo, que não quis colaborar com a polícia, pega 30 anos de prisão e Marcelo acaba livre.

Se a situação for inversa, com Léo dedurando Marcelo, e Marcelo fechando a boca, quem se livra é Léo. E Marcelo é quem passa 30 anos preso.

Caso os dois se dedurem mutuamente, cada um pega só 15 anos. Se os dois ficarem quietos, sem colaborar com a polícia, pegam 5 anos.

Nenhum dos dois, veja, tem como se comunicar com o outro para combinar aquilo que seria melhor para ambos: os dois ficarem quietos e pegar só 5 anos de cadeia.

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E agora? Se você fosse o Marcelo ou o Léo, o que faria? Ficar quieto seria a melhor opção, mas você não sabe se o outro abriria a boca. E se você ficar quieto e o outro rte delatar, danou-se: você vai passar 30 anos na cadeia, e ainda ver o outro sair livre.

O que você faz, então? A maior parte das pessoas prefere evitar o pior (30 anos de cana) e delatar de uma vez.  Nisso você garante que, na pior das hipóteses, passará 15 anos preso. E, na melhor, sairá livre. Se ficasse quieto, passaria 5 anos preso na MELHOR das hipóteses. E 30 na pior. Logo, o melhor é confessar tudo de uma vez.

Bom, ao propor que só vai dar a liberdade para o grupo de empreiteiros que delatar mais, a procuradoria mata dois coelhos da Teoria dos Jogos. Primeiro, impede que eles combinem qualquer coisa – um dos dois lados vai rodar, então não existe acordo possível. É como se as duas partes estivessem de fato isoladas uma da oura, igual acontece no Dilema do Prisioneiro original. Segundo, como você já leu aqui, a jogada da procuradoria incentiva os dois lados a soltar absolutamente tudo o que sabem, pois não existe outra saída.

É isso aí. Temos um poder público usando a Teoria dos Jogos, uma ciência tão jovem quanto sofisticada, para conseguir o que precisa. Ótimo. Eis uma coisa que torna as palavras “Brasil” e “inteligência” menos antônimas. Que continuemos nesse caminho. Que a nossa tradição de estupidez comece a apodrecer junto com quem perder esse jogo.

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