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Por Bruno Garattoni
Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.
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China barra cientistas da OMS que iriam investigar a origem do coronavírus

Equipe estava indo para Wuhan, mas foi impedida de entrar no país; em 2018, cientistas dos EUA apontaram problemas no instituto de virologia da cidade - que coletou e analisou amostras do vírus RaTG13, possível ancestral do Sars-CoV-2 

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Atualizado em 6 jan 2021, 15h15 - Publicado em 6 jan 2021, 13h20

Equipe estava indo para Wuhan, mas foi impedida de entrar no país; em 2018, cientistas dos EUA apontaram problemas no instituto de virologia da cidade – que coletou e analisou amostras do vírus RaTG13, possível ancestral do Sars-CoV-2 

Um ano após o surgimento dos primeiros casos de Covid-19, a Organização Mundial da Saúde finalmente enviou um grupo de cientistas para investigar as origens do novo coronavírus – mas, como revelou ontem à noite o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, a China barrou a entrada deles no país, alegando que seus vistos ainda não haviam sido liberados. A OMS está em negociações com o governo chinês desde o mês de julho, e aparentemente havia obtido a liberação – tanto que dois cientistas da equipe já estavam viajando para o país. 

A equipe da OMS planejava fazer investigações na região de Wuhan, onde os primeiros casos foram relatados. A teoria mais aceita pela comunidade científica afirma que o Sars-CoV-2 surgiu num mercado da cidade que vendia carne de animais selvagens – um dos quais teria servido como hospedeiro intermediário do vírus, originado em morcegos. Mas essa tese possui lacunas. Um estudo que analisou as primeiras 41 pessoas hospitalizadas com Covid-19 em Wuhan revelou que 13 delas não tinham nenhuma conexão com o mercado

O hospedeiro intermediário também não foi determinado. Alguns estudos especulam que poderia se tratar do pangolim, um mamífero em que foram encontrados vírus com 85% a 92% de similaridade genética com o Sars-CoV-2. Mas análises posteriores revelaram que outro patógeno, o RaTG13, pode estar envolvido – pois seu código genético é 96,2% igual ao do novo coronavírus. Ele foi descoberto em 2013 numa mina próxima à cidade de Tongguan (daí as letras TG13), quando seis homens que trabalhavam limpando fezes de morcego morreram de uma pneumonia desconhecida.

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Amostras do RaTG13 foram levadas por cientistas para o Instituto de Virologia de Wuhan (WIV), que fica a 2.000 km da mina. Em 2017, o instituto inaugurou um laboratório com nível 4 de biossegurança (BSL-4), o mais alto que existe. O laboratório foi construído com ajuda dos EUA, da França e do Canadá, e é o único BSL-4 da China. Sua principal cientista, a virologista Shi Zhengli, é referência internacional nos estudos de “ganho de função” (GoF), em que cientistas modificam vírus para dar a eles novas habilidades, como a de infectar outras espécies.

Os estudos GoF são controversos, mas realizados por vários países – seus defensores alegam que eles são fundamentais para entender os vírus e tentar prever futuras pandemias. Em 2015, Zhengli participou da criação de um coronavírus quimérico, ou seja, que combina dois outros: o Sars-CoV-1 e a proteína “spike” do vírus SHC-014CoV, que infecta morcegos.

Por esses três motivos (o RaTG13 é o ancestral conhecido mais próximo do Sars-CoV-2, foi levado para o Instituto de Virologia de Wuhan, e lá eram realizados estudos de ganho de função com vírus), alguns cientistas especulam que o Sars-CoV-2 poderia ser resultado de um acidente, tendo vazado do laboratório chinês. Os laboratórios BSL-4 são extremamente seguros, mas não imunes a falhas. 

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Em fevereiro de 2009, um laboratório nível 4 pertencente ao Centers for Disease Control, nos EUA, sofreu uma falha no chuveiro de descontaminação. Quatro cientistas, que vistoriavam as amostras de vírus do laboratório (mas não haviam começado a trabalhar com elas), tiveram de pedir ajuda para sair do local em segurança. Documentos obtidos pelo jornal USA Today revelam que laboratórios do CDC infringiram normas de segurança em seis ocasiões

Em janeiro de 2018, após visitar o Instituto de Virologia de Wuhan, cientistas americanos também apontaram fragilidades no laboratório chinês. “Durante interações com cientistas no WIV, eles notaram que o novo laboratório tem uma séria carência de técnicos e investigadores com o treinamento apropriado, necessário para operar com segurança este laboratório de alta contenção”, afirma um relatório elaborado pela embaixada americana na China e transmitido a Washington.   

Em entrevista à imprensa estatal chinesa, a imunologista Wang Yanyi, diretora do Instituto de Virologia de Wuhan, confirmou ter sequenciado o código genético do RaTG13, mas disse que nunca teve acesso ao vírus inteiro e “vivo” – somente a fragmentos contidos nas fezes de morcego, e portanto não haveria a possibilidade de que o RaTG13, ou algum sucessor, tenha escapado do WIV. A China também nega ter realizado estudos de “ganho de função” no RaTG13. Em dezembro, o país impediu que jornalistas da BBC tivessem acesso a Tongguan, onde ele foi descoberto. 

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