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Por Bruno Garattoni
Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.
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China omitiu código genético e dados críticos do coronavírus por 2 semanas em janeiro

Gravações e documentos da OMS, obtidos pela agência Associated Press, revelam frustração da entidade com o governo chinês - que omitiu a sequência genética do vírus, o fato de que ele é transmissível entre humanos e casos de infecção durante fase crítica da pandemia

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Atualizado em 3 jun 2020, 16h44 - Publicado em 3 jun 2020, 16h17

Gravações e documentos da OMS, obtidos pela agência Associated Press, revelam frustração da entidade com o governo chinês – que omitiu a sequência genética do vírus e o fato de que ele é transmissível entre humanos, além de ter ocultado casos durante fase crucial da pandemia

Durante o mês de janeiro, o governo chinês omitiu informações cruciais para o combate à pandemia de Sars-CoV-2, como o código genético do vírus, os números de infectados e mortos em Wuhan, e o fato de que o vírus pode ser transmitido entre pessoas. Essas são algumas das revelações de uma longa reportagem da agência Associated Press – a mais tradicional do mundo, fundada em 1846 e com jornalistas em 106 países. A matéria se baseia em gravações de reuniões da OMS e em documentos internos da organização, que foram obtidos pela AP, e conta uma história bem diferente das versões oficiais sobre o surgimento da pandemia, o comportamento das autoridades chinesas – e o papel da própria OMS nesse processo. 

No dia 27 de dezembro de 2019, a empresa chinesa Vision Medicals sequenciou a maior parte do genoma do novo vírus, e o compartilhou com autoridades de Wuhan e com a Academia Chinesa de Ciências Médicas. Em 31 de dezembro, o governo chinês enviou um grupo de cientistas para Wuhan. No dia 1 de janeiro, a OMS solicitou oficialmente informações sobre o vírus às autoridades chinesas; que, no dia 3, informaram que havia 44 casos e nenhuma morte. Até este ponto, todos os passos observaram protocolos normais. A omissão de informações começou a partir daí. 

No dia 2 de janeiro, cientistas chineses terminaram o sequenciamento completo do vírus. No dia 3, o governo enviou uma nota confidencial, à qual a AP teve acesso, proibindo todos os seus laboratórios de pesquisa de publicarem a sequência genética do vírus, ou qualquer outra informação sobre ele, sem prévia autorização. Nesse mesmo dia, o Centro de Controle de Doenças chinês também sequenciou o RNA do vírus, confirmando seu código genético. Em 5 de janeiro, a Academia Chinesa de Ciências Médicas terminou sua própria análise. 

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Porém, mesmo com três análises confirmando a estrutura genética do Sars-CoV-2, o governo chinês se manteve em silêncio. Também em 5 de janeiro, o virologista Zhang Yongzhen, do Shanghai Public Health Center, concluiu seu próprio sequenciamento do novo coronavírus, e notificou o governo chinês. “O vírus deve ser contagioso por vias respiratórias. Nós recomendamos tomar medidas preventivas em locais públicos”, afirmou Yongzhen no documento, obtido pela AP. 

Nesse mesmo dia, a OMS afirmou publicamente o contrário: não havia indícios de que o vírus poderia ser transmitido entre humanos. A agência errou porque não havia recebido as informações mais recentes do governo chinês – que, além de omitir esse detalhe sobre a infectividade do vírus, só publicou seu código genético em 11 de janeiro, nove dias após tê-lo obtido (e seis dias depois de tê-lo confirmado por três análises).     

Não foi a única omissão. Entre os dias 5 e 16 de janeiro, a cidade de Wuhan não reportou novos casos da doença – que, como dados comprovariam mais tarde, continuaram ocorrendo, mas foram escondidos pelas autoridades locais. Por fim, as autoridades chinesas só revelaram que o vírus era transmissível entre pessoas, sua característica mais importante, no dia 20 de janeiro

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A omissão do código genético, o ocultamento de casos e de informações sobre a infectividade do vírus aconteceram durante a fase mais crítica da epidemia, em que ela poderia ter sido contida. E os cientistas da OMS, em reuniões internas, perceberam isso. Está na hora de “mudar de marcha” e aumentar a pressão sobre a China, disse o médico Michael Ryan, diretor de emergências da OMS, em uma reunião na segunda semana de janeiro. Ele temia que o novo vírus repetisse a história da Sars (Síndrome Respiratória Severa Aguda), que surgiu em 2002 na China e matou 800 pessoas pelo mundo. “É exatamente o mesmo cenário, tentando incessantemente conseguir atualizações sobre a China sobre o que estava acontecendo”, disse. Ryan via riscos para a própria OMS, e fez uma comparação com o papel da entidade durante a Sars. “A OMS mal saiu inteira daquele caso”. 

“Nós estamos operando com informações bem mínimas. Não é o suficiente para fazer um planejamento adequado”, disse a epidemiologista americana Maria Van Kerkhove, diretora-técnica das ações sobre Covid-19 na OMS, durante reunião da entidade. “Chegamos a um estágio em que, sim, eles só nos dão 15 minutos antes de divulgar [informações] na CCTV [emissora estatal chinesa]“, reclamou Gauden Galea, diretor da OMS na China, em outra reunião. 

A OMS tem sido criticada por demorar a classificar a situação atual como uma pandemia, o que só ocorreu em 11 de março. O presidente dos EUA, Donald Trump, chegou a acusar a entidade de agir em conluio com o governo chinês e anunciou, na semana passada, que seu país irá deixar a OMS. Mas os novos registros sugerem que a agência estava sendo mantida no escuro, sem acesso a dados essenciais – justamente durante a fase inicial, e mais crítica, do espalhamento do vírus. 

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