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Histórias esquecidas sobre os assuntos mais quentes do dia a dia. Por Felipe van Deursen, autor do livro "3 Mil Anos de Guerra"
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Antes do carro, o caos das grandes cidades era o cavalo

Não é de hoje que os meios como as pessoas vão para cá e para lá mexem em planos urbanísticos. A Nova York do início do século 20 é um ótimo exemplo disso.

Por Felipe van Deursen
Atualizado em 4 set 2024, 11h16 - Publicado em 21 out 2016, 14h56

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Diminui a velocidade máxima em vias expressas. Aumenta. Cria pedágio urbano. Fecha avenidas aos domingos. Cria novos viadutos. Amplia avenidas. Multa. Recorre da multa. Compra uma bicicleta. Amarra a bicicleta no utilitário.

Não é de hoje que o transporte e os meios como as pessoas vão para cá e para lá mexem em planos urbanísticos e sacodem eleições. Não é mesmo. Em 1898, delegações de metrópoles do mundo todo se reuniram em Nova York para debater sobre os problemas de então, como crime, falta de recursos, infraestrutura e a poluição dos modais. Com um detalhe: o carro da época era o cavalo. E cavalo não dejeta gás carbônico e outros poluentes. Cavalo faz cocô, que além de liberar metano no ar, é, como todo mundo sabe, uma sujeira sólida, pesada e fedida.  

Era tanta bosta acumulada nas ruas de Londres, Nova York e outras metrópoles que as projeções para o século 20 eram apocalípticas. O londrino Times disse que até a década de 1940 as pilhas de esterco chegariam a 3 metros de altura. Do outro lado do Atlântico, temia-se que quem morasse ou trabalhasse até o segundo andar em Nova York estaria, em 1930, soterrado pelo material fecal.

Chilique? Exagero? Não muito, se sua rua fosse assim:

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A capital inglesa tinha 50 mil cavalos transportando pessoas todo dia. Nova York chegou a ter pelo menos 100 mil, que produziam uma média de 10 kg de fezes por dia (ou seja, um total de mil toneladas diárias). Haja cocô. Sem contar a urina, as moscas e até mesmo os cavalos mortos:

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Não havia um plano de descarte e tratamento decente para tamanho problema nessas metrópoles equinas. Isso em cidades que se apertavam em cortiços, favelas, quarteirões emporcalhados, calçadas engorduradas, becos abjetos. A densidade demográfica de Nova York mais que dobrou no fim do século 19. Por isso havia tanta preocupação com o acúmulo de dejetos nas vias. Em 1880, NY precisou se livrar de 15 mil carcaças.

Mas, após dias de discussão, não se chegou a conclusão alguma na conferência de 1898. Só a tecnologia e a evolução salvaram as cidades de se afundar na merda. Os bondes deram um alívio, mas foi a popularização do carro, no começo do século 20, que trouxe a solução. Em 1912, o número de automóveis ultrapassou o de cavalos em Nova York. O invento do século era enaltecido por ser “economicamente sustentável e por ter a habilidade de reduzir o tráfego”. Quem diria.

Hoje, as carruagens de NY estão restritas ao Central Park. Grupos de proteção de direitos dos animais queriam o banimento da prática.  Mas, este ano, a prefeitura decidiu limitar o tráfego equino ao parque para mantê-los afastados da poluição, justamente, do “cavalo do século 20″.

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