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Por Maria Clara Rossini
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Tania Kiehl Lucci investiga como genes e ambiente influenciam o comportamento de gêmeos

Esta #MulherCientista já estudou o impacto da depressão pós-parto materna em recém-nascidos – mas hoje procura entender como genes e ambiente influenciam o comportamento de gêmeos.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 1 set 2021, 16h41 - Publicado em 27 ago 2021, 15h55

Muitos pesquisadores passam por um momento crucial no início da carreira acadêmica. É quando eles têm um “clique” e percebem que são cientistas. Tania Kiehl Lucci se percebeu como psicóloga em um estágio que fez durante a graduação na PUC. Ela trabalhava em uma instituição de acolhimento de crianças, e em certo momento, finalmente sentiu que conseguia compreender os anseios dos bebês de oito meses.

A pesquisadora se especializou em desenvolvimento infantil. No mestrado, ela estudou mães com depressão pós-parto e o impacto que essa condição pode causar no desenvolvimento neuropsicomotor dos filhos. Diversos estudos internacionais apontam que a depressão materna pode atrasar a socialização, a fala e outros aspectos importantes do aprendizado e crescimento do bebê. Tania queria verificar por si própria.

A pesquisadora participou de um estudo em larga escala da USP, em que acompanhou 400 mães ao longo de quatro anos. 25% delas desenvolveram depressão pós-parto, uma incidência considerada alta quando comparada com outros países.

A maior surpresa foi que os pesquisadores não observaram grandes diferenças nos marcos de desenvolvimento de bebês de mães com e sem depressão. “A gente achou estranho no início, mas vimos esse resultado se repetir em diversos estudos do grupo de pesquisa . Isso pode mostrar uma resiliência dos bebês para lidar com a situação” diz Tania.

A ciência evolui assim: alguns resultados confirmam, e outros refutam teses. No doutorado, Tania continuou trabalhando com as mesmas mães da pesquisa sobre depressão pós-parto. Ela observou os níveis de certos hormônios nos exames de sangue que essa mulheres haviam realizado no dia em que os bebês nasceram. A pesquisadora verificou que as crianças das mães que desenvolveram depressão depois já vinham ao mundo com níveis elevados de cortisol, um hormônio conhecido por sua ligação com o estresse.

É normal que a mulher tenha altos níveis de cortisol na gravidez, mas não que o hormônio passe para o bebê. A placenta serve como uma barreira para evitar a transmissão. Uma das hipóteses para explicar este fenômeno é que talvez as mães propensas à depressão tenham uma enzima que permite a passagem do hormônio ao filho.

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Geralmente, a mãe só é diagnosticada com depressão dois ou mais meses após o parto. Mas a presença de maior concentração de cortisol salivar no recém-nascido pode indicar, com antecedência, que a mãe está sob o risco de desenvolver a condição.

Após o doutorado, Tania continuou estudando emoções e desenvolvimento infantil, mas focando suas pesquisas em irmãos gêmeos. Ela já trabalhava na USP quando sua orientadora Emma Otta criou em 2015 o Painel USP de Gêmeos, um grupo que pesquisa diferentes aspectos da gemelaridade.

Apesar de serem frequentes no exterior, havia poucas pesquisas com gêmeos no Brasil. Um dos primeiros trabalhos do painel foi estimar a frequência de gêmeos na cidade de São Paulo: onze a cada mil nascimentos. Depois, do Brasil: nove a cada mil nascimentos.

Houve um aumento de 30% no nascimento de gêmeos na última década na cidade de São Paulo, o que pode estar relacionado à idade materna. Mulheres mais velhas têm mais chances de dar à luz gêmeos. Uma causa direta é o uso de técnicas de reprodução assistida, geralmente realizado por casais de idade avançada. Só que estudos realizados em lugares remotos, que não têm acesso à fertilização in vitro, também apontam que mulheres mais velhas tendem a ter mais gêmeos. Ou seja: pode haver uma variável biológica envolvida.

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O Painel não se resume a quantificar nascimentos. Gêmeos são um prato cheio para a pesquisa em psicologia. Eles são uma forma de estudar a influência dos genes e do ambiente no comportamento humano. Os gêmeos monozigóticos (ou idênticos) são fruto de um único zigoto que se dividiu, então eles compartilham o mesmo DNA. Já os dizigóticos (fraternos) vieram de zigotos diferentes, então compartilham 50% do DNA.

O primeiro passo das pesquisas é verificar se os gêmeos são monozigóticos ou dizigóticos. O método mais preciso é fazer um teste de DNA – mas também é o mais caro. Também não dá para simplesmente perguntar aos irmãos, já que apenas 60% deles acertam se são idênticos ou não. Uma alternativa é aplicar um questionário com perguntas básicas aos gêmeos – por exemplo, se as pessoas confundem os dois.

A precisão do questionário chega a ser de 99,6% da de um teste de DNA. O grupo do Painel USP de gêmeos validou um questionário para ser usado com gêmeos no Brasil e o estudo será publicado em breve.

O que se observa é que os gêmeos monozigóticos têm personalidades mais parecidas entre si do que os dizigóticos. Isso indica que alguns traços da nossa personalidade também têm origem genética, e não são influenciados apenas por fatores ambientais. Tania lembra de dois casos em que os gêmeos foram separados na infância e só se reencontraram depois de adultos. Em um dos casos, os dois irmãos estavam trabalhando com fotografia; no outro, os dois se tornaram músicos.

As pesquisas do Painel tem o objetivo de promover a pesquisa com gêmeos sobre processos e comportamentos psicológicos, e abordam temas como cooperação, apego e relacionamento entre gêmeos, além de estudar comportamentos como vocalização, expressões faciais, entre outras características. O grupo de pesquisa realiza um encontro anual de gêmeos, onde compartilham os resultados de pesquisas em gemelaridade e coletam relatos e experiências dos irmãos. Hoje, Tania atua como especialista em laboratório e dá aulas no instituto de Psicologia da USP.

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