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A expectativa sobre os robôs sexuais foi superestimada

A realidade ainda está longe das previsões. Preços altos, estigmas contra os consumidores e questões éticas complicadas atrapalham.

Por Alexandre Carvalho
Atualizado em 16 jan 2023, 17h35 - Publicado em 14 jan 2023, 18h27

Em 2014, uma pesquisa do Pew Research Center, dos Estados Unidos, previu que parceiros sexuais robóticos logo se tornariam comuns. Parecia uma ótima solução para tímidos, para quem tem dificuldade de encontrar alguém para dividir a cama por qualquer outro motivo, e mesmo para indivíduos que gostam de experimentar de tudo no sexo.  

Antes de prosseguir, vale uma explicação: não confunda esses robôs com bonecas sexuais, que não se mexem nem falam. Eles vão muito além: são androides, dispositivos mecânicos que usam inteligência artificial e são projetados para humanos terem relações sexuais. 

Porém, quase nove anos após a previsão da Pew, a constatação é de que a evolução da inteligência artificial e da robótica acabou por superestimar o quanto veríamos desses robôs substituindo potenciais parceiros de carne e osso. 

No ano passado, o Bedbible, um site de avaliação de brinquedos sexuais, publicou um estudo apontando que a indústria de robôs sexuais vale cerca de US$ 200 milhões. Também afirmava que o preço médio de uma unidade seria US$ 3.567. E que há cerca de 56 mil robôs sexuais sendo vendidos por ano em todo o mundo. Lembrando que a população adulta atual gira em torno dos 5 bilhões.

Mas você conhece alguém que já disse ter feito sexo com um robô? No estudo, 17,4% das pessoas dizem que já fizeram. Ou pelo menos já possuíam um robô sexual.

A verdade é que essa indústria tem sido vista como um nicho. E que é improvável que, com o estigma sobre as pessoas que adquirem esses produtos, além do custo nada amigável, os androides se tornem produtos populares. 

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Mas não que seja impossível. Em novembro, o sétimo Congresso Internacional sobre Amor e Sexo com Robôs foi realizado – virtualmente – e mostrou que o interesse acadêmico em sextech está crescendo – uma consequência do interesse popular. Porém ainda a passos vagarosos. 

Numa palestra, Kate Devlin, pesquisadora de IA do King’s College London, e uma das maiores especialistas do mundo em robôs sexuais, disse que, quando começou a trabalhar na área, se empolgou. Previa imensidões de unidades no comércio. Mas admitiu que estava errada. Concluiu que hoje há só um punhado de lugares que fazem “bonecas sexuais” com um pouco de robótica. “Acho que os robôs sexuais nunca serão um grande mercado.”

A professora Tania Leiman, reitora jurídica da Flinders University, da Austrália, estuda como a lei ajuda as comunidades a responder a tecnologias emergentes, automação e algoritmos, como essas tecnologias impactam as pessoas e os riscos inerentes. Para ela, as perguntas ainda não respondidas sobre os robôs sexuais, do ponto de vista da lei, é outro empecilho para que esse mercado deslanche. 

Uma questão crítica é a maneira como as pessoas usam um robô sexual para influenciar ou normalizar suas ações no mundo real. Isso levanta a questão do consentimento se as pessoas usarem os dispositivos para realizar fantasias de estupro, por exemplo. “Existe a capacidade, potencialmente, de fazer robôs sexuais que se parecem com seres humanos identificáveis, sejam eles feitos para se parecerem com celebridades, ex-parceiros ou pessoas que morreram”, afirmou.

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Uma questão complexa, por exemplo, é que bonecas sexuais infantis são proibidas por lei. Mas, basicamente, não há nenhuma regulamentação sobre o que caracteriza uma boneca “infantil”. 

Madi McCarthy, que escreveu uma tese sobre robôs sexuais, avalia os prós e contras desses androides no que representam para as relações reais entre homens e mulheres. “Pode haver algum benefício para a população mais velha ou pessoas que vivem com deficiências ou ansiedades relacionadas ao sexo ou disfunção sexual. Mas, ao mesmo tempo, pode ser um estímulo para a violência sexual contra as mulheres.”

Predominantemente, esses robôs representam mulheres e são comprados por homens. Uma revisão da literatura de 2021 descobriu que um viés masculino está presente no design, no uso e até na ética dos robôs sexuais.

Ainda não há um estudo, porém, sobre se isso diz respeito a mulheres se sentirem menos à vontade com esse tipo de aquisição ou se é mesmo mais uma representação do domínio masculino nas relações sexuais. Se os robôs sexuais se tornarem mais populares do que são hoje, o futuro trará algumas dessas respostas.

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