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Águia-Dourada: Guerreira dos ares

Quando a águia mergulhasobre sua presa, o infernopode vir do céu

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h36 - Publicado em 31 mar 2005, 22h00
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  • Érica Montenegro

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    Em abril de 2004, cientistas monitoravam o comportamento de ursos na Noruega quando presenciaram uma cena nunca antes documentada. “Era como ver neve no Saara”, comparou Torgeir Nygaard, do Instituto Norueguês para Pesquisa da Natureza. Um grupo de ursos escalava uma escarpa coberta de gelo, quando uma águia os surpreendeu e carregou um dos filhotes. “De repente, a ave mergulhou, raptou o urso e sumiu com ele”, contou Jarlee Mogens Totsaas, outro membro da expedição. Até então, não se sabia que os ursos noruegueses tinham um inimigo à altura. Também não se sabia que águias atacassem bichos tão grandes. O pássaro que levou o filhote de urso, surpreendeu os cientistas e virou notícia mundo afora foi uma águia-dourada.

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    Façanhas desse tipo renderam apelidos imponentes como “Rainha dos Céus” e “Pássaro da Guerra” à águia-dourada, o predador alado mais famoso do mundo. Entre as 430 espécies de aves de rapina existentes, ela se destaca pelo sucesso adaptativo. Habita paisagens diversas e não está ameaçada de extinção – ao contrário, pode ser considerada até bastante comum. A mais recente estimativa da organização internacional BirdLife, de 2001, apontou a existência de pelo menos 250 mil águias-douradas sobre a terra.

    No topo da cadeia alimentar, a águia-dourada também é um dos maiores pássaros do planeta. Em tamanho, ela só perde para a harpia, uma espécie amazônica de mais de 1 metro de altura.

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    A impressionante envergadura das asas – até 2,3 metros – obriga a águia-dourada a habitar áreas selvagens onde a vegetação é baixa ou praticamente inexistente, para evitar acidentes de vôo. É um animal que se dá bem em regiões montanhosas, em desertos ou planaltos. “Ela precisa de bastante espaço para caçar, por isso não consegue viver em cidades ou mata fechada”, afima Jemima Parry-Jones, que dirige o Centro Nacional de Aves de Rapina, entidade inglesa que mantém programas de conservação para rapinantes.

    Nesses ambientes, o predador é capaz de capturar peixes na superfície da água, atacar pássaros em pleno vôo ou raptar animais da terra. Sua arma mais poderosa são as garras. Curvas e com até 6 centímetros de comprimento, funcionam tanto como punhal (é com elas que a águia-dourada mata suas presas) quanto como garfo e faca (seguram o corpo para ser dilacerado pelo bico).

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    Outro grande diferencial está na visão – a expressão “olhos de águia” não existe por acaso. A águia-dourada enxerga três vezes melhor do que o homem e, durante vôos à procura de alimento, é capaz de avistar presas a 1,5 quilômetro de distância. O sentido ainda permite que ela se antecipe aos ataques de outras aves de rapina na disputa por territórios.

    Munida desse binóculo natural, a águia-dourada procura alimento sozinha ou em pares – embora haja registros de pequenos grupos que caçam juntos na América do Norte. De um toco de árvore seco ou planando no céu, a até 600 metros de altura, ela observa o ambiente em busca de possíveis vítimas. Quando as encontra, mergulha a até 128 quilômetros por hora e, antes de pousar, projeta as garras para a frente, fincando-as violentamente no pescoço ou no focinho da presa. A refeição pode ser abatida no local ou levada para um ponto afastado de competidores. Em dupla, as águias formam uma eficiente parceria. Uma delas persegue a vítima até deixá-la exausta, enquanto a outra cuida de surpreendê-la.

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    As presas favoritas da águia-dourada são mamíferos com até 1,5 quilo, como coelhos e lebres, e pássaros grandes, como perdizes e faisões – carne suficiente para saciá-la por quase dois dias. Mas ela devora de bom grado répteis, peixes e anfíbios. No inverno, quando é mais difícil caçar, se aproveita da carniça desprezada por outros animais. O item mais estranho do eclético cardápio são as tartarugas-testudo. Para comê-las, as águias que vivem no sudeste da Europa e na Ásia Central as levam para passeios no céu para arremessá-las contra rochas até que os cascos se quebrem e elas possam se fartar do recheio.

    Há lendas que associam as águias-douradas ao rapto de crianças. É verdade que elas, quando adultas, têm força para erguer presas de até 5 quilos. Mas, por mais que a façanha seja possível, até hoje nunca foram registrados casos de ataques de águias-douradas contra humanos. Os maiores animais desafiados pelo pássaro são cervos, raposas, lobos e, desde abril último, ursos.

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    A caçadora implacável é um animal, digamos, caseiro. Existem populações que migram no inverno, mas a maioria é apegada ao ambiente em que nasceu – há, em penhascos da Escócia, ninhos que têm sido usados por sucessivas gerações de pássaros há pelo menos 400 anos. O conservadorismo também fala alto quando o assunto é vida a dois: casais formados para a primeira reprodução permanecem unidos até a morte de um dos dois.

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    No ninho da águia, por sinal, o macho não tem muito como cantar de galo: a fêmea costuma ser 10% maior que ele. Uma das teorias para explicar a diferença se baseia na divisão de tarefas domésticas. Enquanto o macho fica responsável por conseguir o alimento, a fêmea trata de cortá-lo em pedaços para alimentar os filhotes – tarefa que demanda ainda mais força muscular do que a caçada em si. Ser mãe, no fim das contas, pode ser mais difícil que voar por aí para conseguir a lebre de cada dia.

    Caçadora de lobos

    Como outras aves de rapina, águias-douradas podem ser treinadas para ajudar nas caçadas dos humanos. Nas estepes da Ásia Central, elas aprendem a predar animais que não figuram em seu cardápio habitual: lobos e raposas. Os kirguises, nômades que habitam o Cazaquistão e a Mongólia, capturam os pássaros em armadilhas e, em troca de um punhado de carne crua, os condicionam a atacar peles de lobos e de raposas. Terminado o treinamento, a águia vai a campo e captura os animais para seus donos. Os kirguises usam as mesmas aves por três estações seguidas de caça e depois as devolvem à liberdade. Se uma das águias se machuca durante a caçada, é adotada como animal de estimação. Recentemente, a caça de lobos com águias se tornou um negócio. Agências européias e americanas levam grupos para observar a prática – os kirguises recebem sua parte em dinheiro vivo e as águias, em carne crua.

    Fatos selvagens

    Nome vulgar

    Águia-dourada

    Nome científico

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    Aquila chrysaetos

    Dimensões

    Até 2,3 metros de envergadura

    Peso

    Até 6 quilos

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    Principais armas

    Garras que permitem apanhar presas na água, no ar e sobre a terra; visão três vezes melhor do que a do homem

    Comportamento social

    Solitária e monogâmica

    Ataques a humanos

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    Não há registros, apesar de lendas a associarem ao rapto de crianças

    Expectativa de vida

    Até 50 anos

    Quanto come

    Cerca de 1 quilo

    Dieta

    Coelhos, lebres, faisões, cobras, peixes, tartarugas

    Principais inimigos

    Outras aves de rapina

    Se você encontrar uma

    Se não chegar tão perto, dificilmente será atacado

    Para saber mais

    Na livraria

    Eagle – Eyewitness Guide – Jemima Parry-Jones, Dorling Kindersley, Inglaterra, 1997

    Raptors of the World – James Ferguson-Lees, Houghton Mifflin, EUA 2001

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