Animal “volta à vida” após passar 24 mil anos congelado em permafrost na Sibéria
Os pesquisadores aqueceram o rotífero e alimentaram o microrganismo, o que fez com que ele voltasse a ativa e conseguisse até mesmo se reproduzir.
Rotíferos bdeloídeos são seres microscópicos capazes de sobreviver em ambientes inóspitos, sendo resistentes até mesmo a temperaturas extremas. Os cientistas já sabiam que estes animais poderiam passar até uma década congelados e depois voltar à ativa, mas uma pesquisa publicada na revista Current Biology mostra que esse tempo representa uma fração minúscula do período real em que eles podem sobreviver.
Em 2015, pesquisadores do Centro Científico Pushchino de Pesquisa Biológica, na Rússia, encontraram ao nordeste da Sibéria, próximo ao rio Alazeya, um rotífero congelado com menos de um quarto de milímetro no permafrost da região. De acordo com a datação feita pelos cientistas, o microrganismo permaneceu inativo no gelo por um tempo estimado entre 23.960 e 24.485 anos, “voltando à vida” após ser aquecido e alimentado em laboratório.
Estes animais são capazes de entrar em um estado de repouso chamado criptobiose, em que todas as atividades metabólicas de seus corpos são interrompidas. Quando eles “acordam”, agem como se a vida nunca tivesse parado. Os rotíferos são todos fêmeas que se reproduzem por partenogênese, ou seja, não precisam de um macho para fecundá-las. E o animal encontrado na Sibéria foi capaz de produzir seus pequenos clones após voltar à ativa.
Os pesquisadores queriam saber ainda se os rotíferos modernos também teriam a capacidade de sobreviver ao frio extremo. Então, congelaram os descendentes do antigo rotífero, que teriam código genético similar ao ser ancestral, e também alguns microrganismos modernos. Os animais ficaram congelados a -15 ºC por cerca de uma semana, e todos se mostraram igualmente tolerantes à situação.
Essas criaturas, capazes de suportar radiação, fome, desidratação e a escassez de oxigênio, possuem anatomia complexa, com sistema nervoso e digestório. Eles ocupam a Terra há pelo menos 35 milhões de anos, e hoje podem ser encontrados em lagos de água doce e outros ambientes úmidos. Mesmo assim, o rotífero da Sibéria não é o ser mais antigo a reviver após uma temporada no gelo – há registros de vermes nematóides que ficaram inativos no permafrost por mais de 30 mil anos.
Os pesquisadores acreditam que, compreendendo melhor as estratégias biológicas de sobrevivência destes animais, eles poderão também encontrar maneiras de melhorar a criopreservação (processo de congelamento em temperaturas extremas) de células, tecidos e órgãos de outros animais, incluindo os humanos.