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Antártida enfrentava incêndios espontâneos há 75 milhões de anos

O continente gelado já foi verde – e passou por queimadas causadas por vulcões. Veja o que revela a pesquisa realizada pelo projeto brasileiro Paleoantar.

Por Carolina Fioratti
20 out 2021, 16h02

O continente antártico nem sempre foi dominado pelas cores brancas e frias. Uma pesquisa publicada nesta quarta-feira (20) no jornal acadêmico Polar Research mostrou que, durante o período Cretáceo, há 75 milhões de anos, a Antártida não só tinha florestas, como também enfrentava incêndios naturais.

A conclusão é baseada em um pedaço de madeira carbonizado encontrado em uma expedição no continente gelado realizada em 2016. Na época, pesquisadores do projeto Paleoantar estavam explorando a formação de Santa Marta, ao nordeste da ilha de James Ross, quando se depararam com o registro fóssil. Apesar de estar totalmente queimado em seu exterior, os cientistas conseguiram usar análises laboratoriais para descobrir que o fragmento era uma lasca de árvore queimada da família Araucariaceae. 

Fóssil sendo comparado em tamanho com uma moeda de 1 real.
Fóssil de madeira carbonizada encontrado por pesquisadores durante expedição na Antártida. (Polar Research/Divulgação)

Diversos fatores que podem desencadear incêndios naturais, como a queda de raios e até a própria combustão natural. Neste caso, os cientistas sugerem que o incêndio tenha sido causado pela erupção de vulcões, que eram mais comuns na época.

A razão para isso é a movimentação das placas tectônicas. Há 200 milhões de anos, existia um supercontinente chamado Gondwana, que unia a Antártida à América do Sul, África, Índia e Austrália. Aos poucos, as massas de terra foram se afastando até atingirem suas posições atuais. Toda essa movimentação favoreceu o aparecimento desses gigantes caldeirões de lava e os consequentes incêndios.

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Antonio Álamo Saraiva, pesquisador da Universidade Regional do Cariri, explicou, em uma coletiva de imprensa, a importância de estudos envolvendo paleo incêndios em um cenário de aquecimento global que vivemos atualmente. “Precisamos de todas as informações possíveis sobre o que aconteceu no passado para poder lidar com as variações ambientais adversas que virão em um tempo não muito distante”, disse o pesquisador. 

Os incêndios naturais continuam ocorrendo em diferentes partes do globo, mas hoje a incidência das queimadas é maior devido às ações humanas. Se no passado os eventos climáticos extremos levaram a extinções em massa, já podemos esperar o que o futuro nos reserva – e em intervalos de tempo ainda menores. Não é chute: relatórios recentes divulgados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostraram que eventos de calor extremo que aconteciam uma vez a cada 50 anos, por exemplo, podem se tornar 39,2 vezes mais frequentes. 

De toda forma, a Antártida é o melhor lugar para fazer este tipo de estudo paleoclimático, já que seu ecossistema foi o que menos sofreu intervenções humanas diretas. Os pesquisadores devem seguir estudando o continente a fim de entender quais espécies existiam na região, se alguma delas foi capaz de se adaptar aos incêndios, quais foram extintas, entre outras questões. Para chegar a tais respostas, é preciso voltar ao continente e seguir buscando por resquícios do passado verde em meio ao gelo

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