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Até 12 milhões de morcegos: a maior migração de mamíferos do mundo

Os membros da espécie Eidolon helvum, com 76 cm de envergadura, se reúnem anualmente em convenções na Zâmbia, e os cientistas ainda não sabem o motivo.

Por Manuela Mourão
30 nov 2024, 18h00

A maior migração de mamíferos do mundo não é protagonizada por animais carismáticos como os grandes elefantes africanos, os antílopes ou as baleias. Na verdade, esse primeiro lugar no ranking fica reservado a uma espécie do único mamífero voador: o morcego-cor-de-palha (Eidolon helvum).

Esses animais, que fazem da África subsaariana seu lar, se congregam anualmente no Parque Nacional Kasanka, na Zâmbia, em uma reunião que acomoda algo entre 1 milhão e 12 milhões de morcegos. Natal em família bem animado

Vindos de diferentes partes do continente, como a República Democrática do Congo, Tanzânia e Malawi, esses animais se hospedam em florestas chamadas localmente de mushitu, que são úmidas e pantanosas.

O ápice do movimento rola entre outubro e janeiro — nessa época, não dá para saber o que é tronco de árvore e o que é morcego, já que eles ficam agarradinhos aos galhos.

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Ao o cair da noite, o canto alto que lembra o de um passarinho desengonçado ensurdece quem está por perto. É o prenúncio de um banquete: os animais se deliciam com o buffet self-service oferecido pelas matas e fazendas da região. Não estamos falando de vacas ou bezerros, veja bem: eles são frugívoros. Comem frutinhas. 

Esses animais são grandalhões: têm asas de até 76 cm e corpinhos peludos. É com esse par de asas que eles percorrem quase 100 km por noite em busca de frutas saborosas. As favoritas são a baga roxa e a baga d’água, mas mangas e bananas cultivadas por agricultores locais também não passam despercebidas, conta Teague O’Mara, especialista em comportamento de morcegos no Bat Conservation International, para a Smithsonian Magazine

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Na manhã seguinte à comilança, os mamíferos voadores retornam para suas árvores para cochilar até a próxima refeição. 

Por que vão à Zâmbia?

Essa espécie é a única que faz migrações de longa distância na África, e os motivos exatos desse movimento anual ainda são desconhecidos. Os cientistas especulam que eles vão em busca de comida, mas já as frutas estão disponíveis na região de destino durante todo o ano, o que não explica a preferência pelos meses de outubro a janeiro. 

É provável que os morcegos se reproduzam em Moçambique e na Tanzânia, e não em Kasanka, o que aumenta mais ainda as dúvidas sobre seus padrões migratórios.

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Ainda não se sabe se os Eidolon helvum transmitem o itinerário de migração para as próximas gerações, nem se são os mesmos morcegos que retornam a Kasanka a cada ano. A falta de experimentos de alta tecnologia, como a instalação de tags de GPS duráveis nos animais, dificulta rastrear seus percursos.

A população desses morcegos está em declínio devido a fatores como desmatamento e caça para consumo humano. Atualmente, eles estão listados como uma espécie quase ameaçada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Os morcegos-cor-de-palha desempenham um papel vital em seu ecossistema, sendo os melhores dispersores de sementes na África. A perda desses morcegos teria implicações ecológicas e econômicas.

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O’Mara especula que uma colônia de cerca de 100 mil morcegos pode gerar até $800 mil dólares por ano – simplesmente por realizar seu papel de dispersão de sementes (que é, em outras palavras, fazer cocô por onde passam).

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