Botos-cor-de-rosa se comunicam através da urina, mostra estudo
Para os cientistas da pesquisa, os animais podem usar o xixi como meio de reafirmação de poder social e físico.

A patente do vaso sanitário como conhecemos hoje só surgiu em 1775, com o escocês Alexander Cumming, responsável por integrar os banheiros das casas ao sistema de esgoto. Antes disso, fazer o número um ou o número dois era, muitas vezes, uma atividade coletiva — o direito ao xixi privado era reservado às castas mais altas.
O uso de banheiros coletivos é uma tradição que existe há séculos. Os antigos romanos, por exemplo, tinham casas de banho exclusivas para as necessidades fisiológicas. Esse comportamento comunitário é uma herança dos nossos antepassados.
Lá atrás, antes de nos separarmos na árvore evolutiva dos grandes primatas, aprendemos com o nosso ancestral comum que ir ao banheiro podia ter uma função social — aliás, muitas mulheres ainda seguem esse critério rigorosamente.
Porém, nós e os grandes primatas não somos os únicos a encarar a urina como um momento social. Pesquisadores que conduziram um novo estudo com botos-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) mostraram que o xixi também está presente na comunicação desses animais. A pesquisa foi publicada no periódico científico Behavioural Processes.
“Os animais em geral querem aprender o máximo possível sobre outros animais, como sexo, dominância, espécie e assim por diante”, diz Thomas Breithaupt, ecologista sensorial da Universidade de Hull, na Inglaterra, para a Scientific American, “e muitas informações estão na urina”.
O estudo liderado pelo grupo de Breithaupt registrou um comportamento inusitado: a urinação aérea. A cena foi observada no Rio Amazonas e funciona mais ou menos assim: um golfinho-cor-de-rosa macho vira a barriga para cima e ejeta um jato de urina para o ar, formando uma espécie de fonte. Em 70% dos casos, a ação atrai a atenção de outro macho, que se aproxima em seguida.
Para Claryana Araújo-Wang, bióloga do Projeto de Pesquisa Botos do Cerrado, esse comportamento pode ser uma forma de reforçar a condição física dos animais ou indicar sua posição social.
Não é a primeira vez que animais aquáticos usam o xixi como forma de comunicação: peixes e crustáceos já são conhecidos por adotar essa estratégia para sinalizar tamanho, agressividade, status social e prontidão para o acasalamento. Em algumas espécies, as fêmeas escolhem machos com sistemas imunológicos compatíveis com os seus com base no cheiro da urina.
No caso dos botos, porém, os pesquisadores ainda precisam continuar investigando para entender exatamente o que a “fonte de xixi” representa.