Cidades da Sibéria estão cobertas com neve preta
O fenômeno é causado pela poluição de uma das maiores jazidas de carvão do mundo, localizada nessa região
Ver neve de perto é algo raro, pelo menos para os brasileiros. Ver neve preta, assim como alguns moradores da Sibéria presenciaram na última semana, então, parece impossível. Mas acredite: esse tipo de neve você não gostaria de ter no quintal.
Nos últimos dias, uma densa camada de neve escura e tóxica cobriu as ruas de cidades da região da Bacia de Kuznetsk (também chamada Kuzbass), no sudoeste da Sibéria, na Rússia.
A causa está na poluição da mina de carvão a céu aberto que existe em Kuzbass, que abriga uma das maiores reservas desse mineral, com mais de 26 mil quilômetros quadrados. O pó do carvão, proveniente das minas e de fábricas próximas, se mistura com a neve que cai – resultando no cenário pós-apocalíptico.
Moradores de cidades atingidas na região, como Prokopyevsk, Kiselyovsk e Leninsk-Kuznetsky, registraram o fenômeno nas redes sociais.
Problema antigo
Apesar de chamar atenção, a neve preta é um problema constante por lá. “É mais difícil encontrar neve branca do que neve negra durante o inverno”, disse Vladimir Slivyak, membro do grupo ecológico Ecodefense, em entrevista ao jornal The Guardian. Segundo ele, o pó de carvão está presente no ar o ano todo, mas é apenas durante o inverno, com a neve, que ele se torna visível.
Ativistas ambientais alegam há anos que os resíduos tóxicos de carvão trazem graves consequências para a saúde de Kuzbass, cuja população é algo em torno dos 2,6 milhões de habitantes. Um relatório de 2015 da Ecodefense mostra que, na época, havia 120 pontos de mineração e 52 usinas de enriquecimento na região. Para se ter uma ideia do volume de carvão produzido, Kuzbass forneceu 90% do carvão usado na Grã-Bretanha em 2017.
Um estudo da Ecodefense já apontou que Kuzbass apresenta taxas mais altas de tuberculose, paralisia cerebral e certos tipos de câncer em comparação com outras partes da Rússia. De acordo o levantamento, a expectativa de vida na região também é até 4 anos mais curta que a média do país, que é de 71,6 anos.
Além dos problemas ambientais e para a saúde humana, há também os riscos oferecidos pela estrutura das áreas destinas à exploração. Em 2017, um acidente na mina de carvão na cidade de Ulyanovskaya matou 107 pessoas. Foi o maior desastre do tipo na história do país.