Cientistas descobrem que existem moléculas de água em torno da lua Europa
O H2O que escapa do satélite de Júpiter encheria uma piscina olímpica em minutos. Descoberta é importante para encontrar possível oceano de água líquida.
Desde que a humanidade colocou os olhos em Europa, a fascinante e enigmática lua de Júpiter, temos tentado desvendar alguns de seus mistérios. E olha que faz tempo: foram as sondas Voyager que tiraram suas primeiras fotos, em 1979. Agora, cientistas acabam de obter a confirmação de que existem moléculas de água em torno do satélite.
Até então, a ciência tinha apenas evidências indiretas disso. Uma equipe do Centro Goddard, da Nasa, em parceria com outros pesquisadores, publicou na última semana um artigo na revista Nature Astronomy em que descrevem a descoberta. Usando o Keck, um dos telescópios mais poderosos da atualidade, que fica no topo de um vulcão dormente no Havaí, os astrônomos conseguiram detectar enormes quantidades de vapor d’água sendo expelido de dentro da lua: cerca de 2,3 mil quilos por segundo.
De acordo com os cientistas, se toda essa água extraterrestre fosse utilizada para encher uma piscina olímpica, bastariam minutos para completar a tarefa. Mas mesmo com a descoberta, Europa ainda segue misteriosa. Acontece que o fluxo intenso de vapor só apareceu numa única noite de uma campanha de 17 noites de monitoramento no Observatório Keck. Ou seja: o fenômeno não acontece toda hora.
H2O extraterrestre
Foi a primeira vez que os astrônomos deram um jeito de detectar moléculas de H2O nas plumas de gases que escapam do interior da lua para o espaço. Antes, apenas descobertas paralelas de indícios apontavam para a presença de gêiseres aquáticos na superfície (e de um imenso oceano nas profundezas). As evidências foram se acumulando ao longo do tempo, e a primeira prova veio da sonda Galileo, que sobrevoou Júpiter entre 1995 e 2003.
Ela percebeu que perturbações no campo magnético jupiteriano eram bem explicadas com o pressuposto da existência do oceano salgado — ele seria o fluido condutor de eletricidade capaz de produzir tais flutuações magnéticas. Em 2013, o Hubble detectou indícios de hidrogênio e oxigênio (alô, H2O) em formações que se assemelhavam a plumas na atmosfera da lua. Por fim, o mesmo Hubble finalmente conseguiu fazer boas fotos das benditas plumas.
A confirmação definitiva de que há vapor d’água jorrando da grossa crosta congelada de Europa é importante para a saga de entender melhor como funcionam os mecanismos internos do planeta. Dá ainda mais respaldo para algo que os cientistas já tomam como praticamente certo: o tal oceano de água líquida fluindo nas entranhas de Europa, que pode ser duas vezes maior que os oceanos da Terra. Mas há outras ideias.
Os astrônomos cogitam que uma possível fonte para as plumas sejam reservatórios rasos de água derretida não muito abaixo da superfície, ou ainda a violenta radiação de Júpiter “descascando” as moléculas de água do gélido envoltório de Europa. É bem provável que esses e muitos outros mistérios sobre um dos mundos mais promissores para abrigar vida alienígena comecem a ser resolvidos na metade da próxima década — a missão Europa Clipper, da Nasa, conduzirá levantamentos minuciosos de dentro e de fora da lua.