Cientistas descobrem segredo em rascunhos deixados por da Vinci
Leonardo tinha um caderno cheio de rabiscos que sempre foram considerados "irrelevantes"; mas contêm uma importante descoberta científica
Leonardo da Vinci não era um cientista convencional: deixou seus rascunhos artísticos e seus estudos espalhadas em milhares de folhas de caderno bastante bagunçadas ao invés de publicá-los.
Uma dessas páginas desorganizadas foi por anos classificada como “irrelevante” por historiadores de arte – até que cientistas de Cambridge descobriram que os rabiscos que ela contém marcam a descoberta das primeiras Leis do Atrito.
Quem leva o crédito oficial por descobrir as Leis do Atrito é o cientista francês Guillaume Amontons, que publicou seus estudos duzentos anos depois que Leonardo da Vinci trabalhou no conceito. As Leis descrevem a forma como duas superfícies se relacionam – oferecendo ou não resistência ao movimento. É o atrito que define se um objeto em uma ladeira fica parado ou escorrega, por exemplo.
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Já se sabia que da Vinci tinha um conhecimento sofisticado dos mecanismos do atrito, por conta de outros de seus cadernos. O inventor passou 20 anos estudando os mecanismos da fricção na construção das suas máquinas e invenções.
Só que como e quando Leonardo passou a entender o fenômeno era um mistério, até que pesquisadores da Universidade de Cambridge estudaram uma subestimada página de um dos seus diários, em exibição no Museu Victoria and Albert, em Londres.
A pequena folha, com 92 x 33 mm de tamanho, já era bastante famosa, mas o que chamava a atenção dos visitantes do museu era um desenho na parte superior. O rascunho mostra uma mulher idosa e é acompanhado pela frase “a beleza mortal é passageira e não dura”. Historiadores da arte acreditam que o croqui e a citação – escrita em sua misteriosa letra espelhada – fazem referência à figura mítica grega de Helena de Tróia.
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Mas o professor Ian Hutchings se interessou mais pela parte inferior da página, que foi declarada pelos curadores do museu, em 1920, como “anotações irrelevantes e diagramas em giz vermelho”. Foi ali, debaixo das notas em vermelho, que ele encontrou uma versão primitiva de um desenho com blocos sendo suspensos por um peso conectado a uma polia, mostrando o registro mais antigo dos estudos de da Vinci sobre a fricção entre objetos.
É exatamente esse tipo de experimento que é usado hoje em dia para comprovar a existência do atrito. Uma versão aperfeiçoada desse diagrama apareceu em anotações posteriores de Leonardo, muito mais fáceis de interpretar:
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Ter conhecimento sobre as forças de atrito provavelmente foi essencial para que Leonardo da Vinci desenvolvesse suas invenções. O professor Hutching acredita que grande parte do trabalho do italiano foi entender o comportamento de rodas, eixos, roscas e polias.
Sabendo calcular o efeito do atrito sobre essas ferramentas, ele era capaz de prever como a fricção limitaria a eficiência das suas máquinas complicadas antes mesmo de construí-las. A descoberta, “escondida” e ignorada por anos no maior museu de arte e decoração do mundo, mostra que estamos longe de compreender completamente os diários do mais famoso dos renascentistas, mesmo quase 500 anos depois da sua morte.