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Cientistas reconstroem rosto de mulher neandertal que viveu há 75 mil anos

O crânio que serviu de modelo foi encontrado na caverna de Shanidar, no Iraque, totalmente esmagado – e teve que ser reconstruído à mão.

Por Caio César Pereira
Atualizado em 6 Maio 2024, 11h03 - Publicado em 5 Maio 2024, 14h00

Um grupo de arqueólogos das universidades de Cambridge e Liverpool, na Inglaterra, realizou uma reconstrução do rosto de uma mulher neandertal que viveu há pelo menos 75 mil anos. A face foi reconstruída em um modelo em 3D por meio de fragmentos ósseos de um crânio encontrado na Caverna de Shanidar, no Curdistão Iraquiano.

O lugar é famoso desde 1950 por abrigar diversos fósseis e restos mortais de neandertais, os hominídeos que no passado conviveram com os Homo sapiens, e foi lá que, em 2018, os pesquisadores encontraram o esqueleto da individuo apelidada de “Shanidar Z”. Agora, seis anos depois, seu crânio foi reconstruído.

As escavações foram parte de um documentário chamado “Segredos dos Neandertais”, produzido pela BBC Studios e lançado pela Netflix na última quinta-feira (2). Nele, acompanhamos um grupo de arqueólogos que busca estudar o que se sabe sobre nossos “primos” extintos há pelo menos 40.000 anos.

A cabeça não foi encontrada inteira, de forma que montá-la foi um verdadeiro quebra-cabeças. Pouco tempo após a morte de Shanidar, seu crânio foi esmagado por desmoronamento de rochas e, por isso, foi encontrado completamente achatado e compactado após dezenas de milhares de anos de sedimentação.

Mesmo assim, para os pesquisadores, o crânio de Shanidar Z é considerado uma das melhores descobertas arqueológicas de um Neandertal deste século.

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Shanidar foi retirada debaixo de sete metros e meio de solo e rocha no coração da caverna, e suas partes foram envoltas em pequenos blocos cobertos de papel alumínio. Os pedaços foram então levados ao laboratório de Cambridge, onde o crânio foi montado pela pesquisadora Lucía López-Polín, que juntou mais de 200 peças de ossos à mão. O processo levou um ano inteiro para ser finalizado.

“Cada fragmento de crânio é delicadamente limpo, e são aplicados cola e consolidante para estabilizar o osso, que pode ser muito macio, semelhante em consistência a um biscoito mergulhado no chá”, conta Emma Pomeroy, paleoantropóloga do Departamento de Arqueologia de Cambridge e uma das autoras do estudo. “É como um quebra-cabeça 3D de alto risco. Um único bloco pode levar mais de quinze dias para ser processado.”

A equipe ainda recorreu à ciência forense para entender como ficam os ossos após processos de traumatismos e decomposição, a fim de fazer uma reconstrução mais precisa do crânio. Depois, para dar início ao processo de modelagem, o crânio reconstruído foi digitalizado e impresso em 3D.

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Esse modelo de crânio em 3D serviu como base para que os paleoartistas Adrie e Alfons Kennis completassem a reconstrução, preenchendo o projeto com camadas de músculo e pele sintéticos fabricados para enfim dar moldes finais ao rosto.

Analisando a estrutura dos ossos pélvicos, e principalmente sequenciando as proteínas presentes nos esmaltes dos dentes, os pesquisadores acreditam que Shanidar é de fato do sexo feminino. As análises estimam que ela era uma mulher adulta mais velha, provavelmente em seus 40 e poucos anos.

Em comparação com o crânio dos humanos, os crânios neandertais possuem algumas diferenças, como grandes arcos superciliares, pouco queixo e uma maior projeção da face – que resulta nos narizes mais proeminentes nos nossos primos neandertais. 

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Entretanto, o rosto recriado sugere que essas diferenças não eram tão marcantes assim nos indivíduos em vida. Vale lembrar que humanos e neandertais conviveram e procriaram entre si – sabemos disso por causa da herança genética deixada por eles. Segundo os pesquisadores, a semelhança física entre as espécies, maior do que se acreditava até então, provavelmente facilitava esses encontros românticos.

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