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Com mudanças climáticas, tubarões se afastam de áreas de proteção no Atlântico

Pesquisadores combinaram dados de satélites com dados de rastreamento dos tubarões e descobriram que o aquecimento das águas provoca mudanças em padrões migratórios.

Por Luisa Costa
14 jan 2022, 19h38

O ano de 2021 marcou um novo recorde: pelo sexto ano consecutivo, as temperaturas dos oceanos aumentaram. Esse fenômeno é um dos protagonistas quando se fala em mudanças climáticas e tem uma porção de consequências preocupantes. Uma das principais é o aumento do nível dos oceanos, que acontece a partir da expansão térmica: à medida que as águas absorvem calor, elas aumentam de volume.

O aquecimento também pode levar ao derretimento mais acelerado das geleiras e a mudanças nos padrões de ventos e chuvas ao redor do planeta (que podem intensificar furacões e tufões), além de dificultar a absorção de carbono da atmosfera pelos oceanos.

Mas não para por aí. As mudanças de temperatura podem alterar diretamente o comportamento de espécies marinhas e, assim, bagunçar ecossistemas ao redor do mundo. Um exemplo recém-descoberto é o caso dos tubarões-tigre (Galeocerdo cuvier) no Oceano Atlântico – próximo à costa nordeste dos Estados Unidos.

Uma equipe de pesquisadores combinou quase dez anos de dados de satélites com 40 anos de dados de rastreamento desses animais. Assim, descobriu que as mudanças de temperatura das águas provocam mudanças nos padrões migratórios da espécie. As descobertas foram publicadas na última quinta-feira (13), no periódico científico Global Change Biology.

Para realizar o estudo, os cientistas capturaram 47 tubarões entre a Flórida (nos Estados Unidos) e o norte de Bahamas, para equipá-los com dispositivos de rastreamento por satélite e monitorar as migrações dos animais – algo que rolou entre 2010 e 2019.

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Eles também utilizaram dados de rastreamento de outros 8.764 tubarões-tigre, referentes ao período entre 1980 e 2018 e obtidos por um programa da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (ou NOAA, na sigla em inglês).

Também foram utilizadas medições feitas a partir de satélites da NOAA sobre as temperaturas da superfície do mar em várias décadas, o nível dos oceanos e a presença de fitoplâncton – organismos microscópicos que produzem oxigênio para as águas (e a atmosfera) e estão na base da cadeia alimentar dos ecossistemas aquáticos.

Os pesquisadores combinaram esses dados a fim de mapear a migração dos tubarões, que costumam passar os meses de inverno em águas mais quentes (na região da Flórida e de Bahamas) e se aventurar mais ao norte do Atlântico no verão.

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Eles perceberam que, com o aumento da temperatura dos oceanos, os tubarões se movem mais ao norte do oceano (à procura de água fresca), passando cada vez mais tempo longe de áreas de proteção à espécie – que têm medidas contra a pesca comercial.

A estimativa é que, para cada 1 °C de aquecimento das águas do oceano, as migrações de tubarões-tigre se estendem cerca 400 quilômetros ao norte, e as viagens de verão começam cerca de 14 dias antes.

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Análises estatísticas feitas pelos cientistas também indicaram que, de fato, era o aumento de temperatura que estava impulsionando essas mudanças de migração – não a profundidade dos oceanos ou a maior ou menor presença de fitoplâncton, necessariamente.

Segundo os pesquisadores, a população de tubarões-tigre é relativamente estável, e ainda não foram identificadas as consequências ecológicas dessas mudanças. Mas, à medida que esses animais se afastam das áreas protegidas, se tornam mais vulneráveis à pesca – e isso pode impactar as populações de tubarões seriamente, visto que se reproduzem e crescem lentamente.

Os tubarões-tigre, que são predadores que estão no topo de cadeias alimentares, também podem bagunçar os ecossistemas que deixam para trás ou aqueles para os quais migram e passam um período maior por conta das mudanças de temperatura.

Essas descobertas indicam que precisaremos ficar de olho nesses tubarões nos próximos anos, para acompanhar as possíveis consequências dessas movimentações, além da possível necessidade de se estabelecer novas áreas de proteção contra a pesca.

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