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Como a vida de Albert Einstein pode inspirar a sua

"O senso comum é coleção de preconceitos adquiridos até os 18 anos"

Por Salvador Nogueira
Atualizado em 9 abr 2017, 14h09 - Publicado em 7 abr 2017, 18h26

Puxa vida, talvez não exista tarefa mais difícil do que tentar dizer o que podemos aprender com Albert Einstein. Primeiro porque são muitas coisas. Segundo porque são profundas. E terceiro porque tem tantas facetas que é difícil espremer a fruta até ficarmos somente com o suco – que é, como talvez diria Einstein, a única coisa que o tempo e o espaço nos permitirão abordar aqui.

A vida e a obra de Einstein em essência demonstram quanto vale a reflexão cuidadosa e como precisamos nos despir de preconceitos. Desde jovem até o fim de sua vida, o físico pregou a necessidade de não tomarmos o discurso vigente pelo seu valor de face. É verdade que ele também demonstrou certos compromissos ideológicos, ao, por exemplo, abraçar a constante cosmológica apenas para conformar sua teoria ao que ele achava que ela deveria dizer sobre o mundo. Da mesma maneira, e por motivos similares, ele passou praticamente a vida toda renegando as consequências da mecânica quântica, que transformara o Universo numa série interminável de eventos probabilísticos, não deterministas. Para ele, o mundo não poderia ser, em sua natureza mais elementar, desse jeito.

Contudo, convicções como essa são inofensivas e até benignas. Um ser humano sem nenhuma convicção também não serve para nada. O ideal é que ele tenha pelo menos a convicção de que convém desconfiar de convicções. E Einstein seguramente tinha isso.

Sempre que estamos diante de uma situação que nos parece obviamente apontar numa dada direção, rumo a uma certa interpretação, cabe lembramos disso e darmos um passo atrás. Será que há espaço para desafiarmos nossas convicções? Será que há um ponto de vista alternativo? Será que a verdade está nos olhos de quem vê? Seria ela relativa?

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Esse é um ponto fundamental do pensamento de Einstein, que nos leva diretamente a algumas de suas qualidades humanistas mais marcantes: o profundo pacifismo e a crença no internacionalismo. A noção de que a guerra nunca é a resposta para nada e que estamos todos irmanados neste planeta numa civilização só, ligados por laços que não podem ser desfeitos, por mais que tenhamos costumes tribais enraizados de separar o mundo entre “nós e eles”.

Outra coisa que encanta na postura de Einstein tem a ver com sua capacidade de resolver problemas e propor soluções, baseando-se nas premissas mais simples. Os famosos gedankenexperimenten – os experimentos mentais que o físico fazia para explorar as questões que o intrigavam – mostravam exatamente como ele procedia ao investigar a natureza: com os olhos de uma criança, que tenta entender o que vê e o que a cerca, despida de preconceitos. É aquela “ingenuidade do bem”, que permite enxergar através das camadas espessas de imposição cultural, e para a qual, não importando a nossa idade, sempre deveríamos guardar um espacinho dentro de nós.

Einstein acreditava que a mentalidade infantil representava o espírito científico em seu estado mais puro, a capacidade de inquirir sem se sentir tolhido de maneira alguma. Acreditava também que vamos perdendo ao longo da vida essa capacidade, justamente por nos afundarmos sob o mundo adulto, cheio de ideias preconcebidas. Como forma de combater esse afundamento e manter aflorado o poder de questionar, Einstein apostou no poder das respostas simples e ao mesmo tempo profundas. “Se você não pode explicar de forma simples, você não entendeu”, ele dizia.

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Ironicamente, a teoria da relatividade geral, em sua formulação matemática, é uma das coisas mais difíceis que já se produziu em física. O que mais uma vez atesta o poder do gênio em enxergar o simples em meio às complicações. Esse é um exercício salutar em todas as estradas da vida: buscar entender a essência, o simples, de cada situação nos ajuda a nos posicionarmos melhor, enfrentarmos com mais vigor as dificuldades e abraçarmos com mais facilidade os prazeres que elas nos oferecem.

Por fim, não podemos deixar de destacar que essa capacidade emerge muito mais fácil quando encontra genuíno respaldo em nosso mundo mental interno, quando faz parte do nosso próprio modo de pensar. Para entender isso, basta ver em que circunstâncias Einstein se tornou a mais poderosa força de transformação na física. Aconteceu em 1905, em seu “ano miraculoso”, quando o cientista trabalhava no escritório de patentes em Berna, lidando com burocracia mais do que com qualquer outra coisa. Note que sua produção científica não emergiu de seu emprego; partiu de sua necessidade criativa de investigar os problemas da natureza, a despeito de não contribuírem em nada para sua vida profissional naquele momento. Em resumo: Einstein praticava física porque tinha paixão por ela, não porque isso fosse exigido dele profissionalmente.

É uma demonstração cabal de que devemos sempre abraçar nossas vocações e não desistirmos delas mesmo quando as circunstâncias parecem apontar noutra direção. Note que não se trata de abandonar o sistema quando ele não lhe favorece, simplesmente se rebelar e cair num niilismo. Einstein, como todos nós, tinha contas a pagar no fim do mês e estava grato pelo emprego, ainda que não lhe trouxesse a mínima satisfação pessoal. A sabedoria dele foi permanecer lá, mas não permitir que aquilo o levasse a perder de vista onde estava o seu coração. O resultado foi uma das carreiras mais brilhantes e bem-sucedidas já vistas na história da ciência. Até hoje, quando falamos em gênio, pensamos em Einstein. Não por acaso.

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