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Descoberto como múmia de vigário se manteve preservada desde o século 18

O método é inusitado e nunca visto antes: o corpo foi embalsamado pelo reto. O abdômen era preenchido através do canal retal com lascas de madeira e tecido.

Por Manuela Mourão
5 Maio 2025, 19h00

Por mais que as múmias egípcias tenham garantido sua fama quando o assunto é embalsamamento, várias outras culturas adotavam a prática ao se despedir de um ente falecido – aliás, esse tipo de preservação de corpos após a morte é feito até hoje. Porém, até recentemente pouco se sabia sobre uma técnica única encontrada em uma múmia austríaca. Agora, um novo estudo conta que a preservação contou com um método inédito: ela foi embalsamada via reto. 

Residente da cripta da igreja de St. Thomas am Blasenstein, o cadáver intrigava pesquisadores há anos. Reza a lenda que o corpo mumificado era de um vigário aristocrático, Franz Xaver Sidler von Rosenegg, que teria vivido 37 anos e morrido em 1746. 

De acordo com os autores da pesquisa, publicada na revista Frontiers in Medicine, “a investigação revelou que o excelente estado de preservação veio de um tipo incomum de embalsamamento, obtido ao encher o abdômen através do canal retal com lascas de madeira, galhos e tecido, e pela adição de cloreto de zinco para secagem interna.”

Fotografia do aspecto externo da múmia, visto do lado ventral (A) e dorsal (B), mostrando a parede corporal completamente intacta.
(Andreas Nerlich/Reprodução)

A descoberta foi uma surpresa para a comunidade científica, segundo Andreas Nerlich, patologista da Universidade Ludwig Maximilian de Munique, na Alemanha, e primeiro autor do estudo. 

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O corpo foi previamente analisado e nenhum corte externo foi encontrado. Além disso, a múmia passou por estudos de raio-X que, apesar de não terem mostrado o enchimento do interior, revelaram uma estrutura redonda dentro do intestino inferior esquerdo do cadáver – levando a rumores de que o indivíduo havia morrido após engolir uma cápsula venenosa.  

Durante uma recente reforma na cripta, pesquisadores liderados por Nerlich realizaram uma autópsia parcial e exames no corpo da múmia bem preservada. As conclusões indicaram que o corpo era de um homem com idade entre 35 e 45 anos, que provavelmente morreu entre 1734 e 1780. 

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As análises dos ossos, dentes e pele revelaram uma dieta rica em produtos de origem animal e grãos típicos da Europa Central — compatível com a alimentação de um vigário paroquial da região —, o que reforça a hipótese de que a múmia seja de Sidler, uma figura histórica associada ao local.

Além disso, o esqueleto não mostrava sinais de estresse, mas possuía evidências de tabagismo. Para o jornal The Guardian, Nerlich diz que “tanto usar sapatos pontudos quanto fumar cachimbo eram muito típicos de um padre naquela época”. 

Pesquisadores descobriram que a suposta “cápsula venenosa” era, na verdade, um pedaço de vidro. Já sobre a causa da morte, Sidler provavelmente morreu por sangramento nos pulmões causado por tuberculose. A razão de sua mumificação ainda é incerta, mas pode ter sido para evitar a propagação de doenças ou para preservar o corpo para retorno ao seu mosteiro de origem.

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“Temos algumas evidências escritas de que cadáveres eram ‘preparados’ para transporte ou disposição prolongada dos mortos, embora nenhum relatório forneça uma descrição precisa”, conclui Nerlich em comunicado. “É possível que o transporte do vigário para sua abadia natal tenha sido planejado, o que pode ter falhado por razões desconhecidas”.

Os pesquisadores acreditam que Sidler pode não ter sido o único a receber um embalsamamento pelo reto. “Este é o primeiro caso com este tipo de embalsamamento documentado”, disse Nerlich para o jornal inglês. “Portanto, não temos ideia de com que frequência ou onde isso foi realizado, embora presumamos que esse tipo de ‘preservação de curto prazo’ tenha sido usado com muito mais frequência do que poderíamos esperar deste único caso.”

Em comunicado, ele ainda acrescenta que a prática pode ter sido muito mais difundida, mas pouco reconhecida em casos em que a parede do corpo foi danificada em processo de decomposição pós-morte.

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