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Dia da bicicleta: a história da criação do LSD e da 1ª viagem com a droga

Em 19 de abril de 1943, o químico Albert Hoffman experimentou uma substância desconhecida que ele havia sintetizado. E pedalou do laboratório para sua casa.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 22 abr 2024, 10h14 - Publicado em 19 abr 2024, 16h05
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  • É bem provável que você já tenha comprado algum remédio da Sandoz. A farmacêutica suíça é uma das grandes produtoras de medicamentos genéricos  – é só procurar por um S azul (parecido com o da Super, inclusive) na caixinha de remédio para identificá-la. 

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    Lá pelos anos 1930, a empresa queria sintetizar um composto que estimulasse os sistemas respiratório e circulatório. Para isso, os pesquisadores da empresa partiram do esporão-do-centeio, um fungo que contamina (óbvio) plantações de centeio. Já se sabia que o fungo é letal em doses altas, provocando crises de convulsão e alucinações quando ingerido.

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    Só que o esporão-do-centeio não é de tão mal em doses baixas. Ele já foi usado na medicina tradicional para acelerar o trabalho de parto e estancar o sangramento em seguida. Em 1917, o químico Arthur Stoll isolou as substâncias responsáveis por essas propriedades: a ergotamina e a ergobasina (a primeira, inclusive, é um vasoconstritor usado em crises de enxaqueca). Elas eram a parte “boa” do esporão, sem os efeitos colaterais, e deram origem a medicamentos populares.  

    O nascimento do LSD

    Pula para 12 anos depois. Em 1929, a farmacêutica contratou o químico recém-formado Albert Hofmann. Ele estava sob a chefia de Arthur Stoll, então foi natural que começasse a estudar as moléculas presentes no fungo. Eles perceberam que muitos compostos ali eram derivados de uma mesma estrutura: o ácido lisérgico.

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    Hofmann criou um método para sintetizar moléculas derivadas do ácido lisérgico e estudar possíveis propriedades terapêuticas – que poderiam resultar em novos remédios. Em 1938, ele já havia sintetizado 24 moléculas. Na 25ª tentativa, ele juntou o ácido lisérgico com dietilamida, apelidando a substância de LSD-25.

    O pesquisador esperava que a substância pudesse estimular a circulação e a respiração, mas não foi o que rolou. O LSD-25 (abreviação de dietilamida do ácido lisérgico, em inglês) foi testado em animais, deixando os bichinhos muito eufóricos e com comportamentos estranhos. A substância foi engavetada, por não apresentar nenhum princípio farmacológico evidente. 

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    Cinco anos depois, Hofmann resolveu revisitar a substância. Em 16 de abril de 1943, ele sintetizou o LSD novamente. Ao manusear a substância cristalizada, ele começou a se sentir estranho, e decidiu sair do laboratório. Chegando em casa, ele entrou em um estado de imaginação aguçada, quase como num sonho, com cores vivas e imagens caleidoscópicas. 

    Essa foi a primeira experiência com LSD da história. A substância era tão forte que provocou uma viagem acidental a partir do contato com a pele do químico. Três dias depois, ele estava pronto para explorar a droga novamente.

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    Dia da bicicleta

    Sem contar para seus colegas de laboratório, Hofmann dissolveu 250 microgramas da substância em água, e bebeu. 40 minutos depois, ele começou a se sentir tonto, ansioso, com distorções visuais, sintomas de paralisia e vontade de rir. O químico voltou para casa de bicicleta com uma assistente do laboratório. Tudo sob efeito da droga.

    Ele descreve essa primeira trip intencional em seu livro de memórias LSD: My Problem Child (“LSD: minha criança problema”).

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    “Tudo no meu campo de visão balançou e ficou distorcido como em um espelho ondulado. Eu também tive a sensação de ser incapaz de sair do lugar. Mesmo assim, minha assistente disse depois que eu pedalei muito rápido. Finalmente chegamos em casa são e salvos, e eu mal conseguia pedir para meu companheiro chamar o médico da família e pegar leite com os vizinhos”.

    Hofmann achou que poderia estar morrendo. Afinal, ele intencionalmente ingeriu uma substância desconhecida, que podia muito bem ser tóxica ou letal. Quando o médico chegou, não encontrou nada de anormal além de pupilas dilatadas. Pressão, respiração, batimentos cardíacos… tudo ok. O médico ficou ao seu lado esperando os efeitos mentais passarem.

    Depois disso, o LSD voltou a ser testado em animais para avaliação de toxicidade. Ele se provou uma droga relativamente segura em ambientes controlados, ainda que o uso recreativo não supervisionado, evidentemente, jamais seja recomendável. Até 1966, a Sandoz distribuiu a substância, sob o nome Delisyd, para pesquisa científica e tratamentos experimentais. O LSD era especialmente procurado por psiquiatras, que acreditavam que a droga simulava esquizofrenia e permitia estudá-la. 

    E o resto é história. Em 1985, ficou estabelecido que em 19 de abril seria comemorado o Dia da Bicicleta, em homenagem à primeira “viagem” intencional de Hofmann. Essa não é uma data oficial, é claro. Mas a lembrança vale: essa descoberta polêmica foi parcialmente responsável por uma revolução cultural no Ocidente na década de 1960, e até hoje a medicina descobre novas aplicações sérias para drogas alucinógenas.

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