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DNA humano contém indícios de hominídeo extinto desconhecido

Nem neandertal nem denisovano, o dito cujo ainda é só uma hipótese. Se verdadeira, ela explicaria a existência de um pedaço curioso de DNA em nosso genoma

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
21 jan 2019, 16h35

Os primeiros seres humanos anatomicamente similares aos Homo sapiens de hoje surgiram na África há cerca de 300 mil anos (provavelmente nas redondezas da Etiópia, embora evidências recentes apontem outros cantos). As nossas primeiras expedições para fora do continente materno aconteceram um pouco depois, há 115 mil ou 130 mil anos. 80 mil anos atrás, já tínhamos chegado ao atual território da China. 

Não foi uma migração no sentido atual da coisa – família inteiras peregrinando de fronteira em fronteira com a bagagem nas costas. Foi algo mais próximo do crescimento da periferia de uma grande cidade: os territórios ocupados e explorados pelos caçadores-coletores se expandiam ao longo das gerações, sem que ninguém tivesse a intenção consciente de viajar. Entenda melhor aqui.

No caminho dessa rápida expansão, nossos antepassados encontraram uma rapaziada peculiar: na Europa, os homens de Neandertal (nome do vale alemão em que o primeiro fóssil foi encontrado). Na Ásia e na Oceania, os homens de Denisova. Ambos eram extremamente parecidos com o Homo sapiens – inclusive em capacidade cerebral. Os neandertais faziam pinturas, aplicavam aspirina em dentes inflamados e usavam dióxido de manganês para acender fogueiras mais facilmente. 

Nós brigamos e transamos com esses hominídeos. Carregamos até hoje trechos de seu DNA. Com uma ajudinha de mudanças climáticas, fomos os prováveis responsáveis por sua extinção. E eles eram assim tão parecidos conosco porque eram descendentes do mesmo primata que deu origem a nós: o Homo heidelbergensis.

Homo heidelbergensis surgiu também na África, há 800 mil anos. A árvore genealógica dos nossos antepassados é confusa e está em constante reconstrução (esta matéria ajuda a montar o quebra-cabeças), mas a hipótese mais aceita diz que os H. heidelbergensis que ficaram na África deram origem a nós, os que chegaram à Europa se tornaram o homem de Neandertal, e os que chegaram à Ásia desembocaram no homem de Denisova.

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Um estudo publicado em 16 de janeiro na revista científica Nature Communications dá pistas de que a confusão é ainda maior do que imaginávamos. Uma colaboração entre quatro institutos de pesquisa em genética vasculhou a sequência de letrinhas de DNA de pessoas do leste da Ásia e da Oceania com ajuda de inteligência artificial, e encontrou um trecho que não é nem de Homo sapiens, nem de Neandertal, nem de Denisova.

É possível que esse trecho seja proveniente de uma quarta espécie descendente do H. heidelbergensis, diferentes das já conhecidas, e que também cruzou com o Homo sapiens há uns 80 mil anos. Vale reforçar que essa é só uma hipótese, e novos estudos são necessários para confirmá-la. Uma ossada do dito cujo ajudaria um bocado, mas fragmentos dos nossos antepassados, infelizmente, são uma raridade. Nas palavras do escritor americano Bill Bryson, todos esqueletos de hominídeo já encontrados caberiam na caçamba de um picape se você não se importasse em misturá-los.

“Nós sabemos que seres humanos modernos se reproduziram com os Neandertais e com os denisovanos, mas ainda não há evidências certas de cruzamento com essa terceira espécie extinta”, afirmou em comunicado à imprensa Jaume Bertranpetit do Instituto de Biologia Evolutiva (IBE) em Barcelona, um dos cientistas que participou do estudo. Em resumo: isto ainda não é propriamente uma notícia. Mas vale ficar de olho nos próximos crânios e mandíbulas que derem as caras na Ásia. 

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