E se todo mundo fosse obeso?
Esporte, publicidade, sexo e moda seriam bem diferentes. No entanto, continuaríamos vivendo o dilema academia x brigadeiro
Nathan Fernandes
É mais provável que a população passasse mais tempo em cima de esteiras do que em cadeiras flutuantes, como no futuro poluído e balofo do filme Wall-E. Isso porque continuaríamos lutando para ser saudáveis. Afinal, obesidade é uma doença crônica. Hipertensão, diabetes, colesterol alto e problemas cardíacos são apenas a cereja de um bolo gigantesco com granulado e cobertura de chocolate escorrendo pelos cantos. Obesidade é a segunda maior causa evitável de câncer, perdendo apenas para o cigarro. Segundo um levantamento do Ministério da Saúde, 48,5% dos brasileiros pesam mais do que deveriam e 15,8% são, de fato, obesos. O que é pouco se comparado aos 35,7% de habitantes obesos nos Estados Unidos.
A humanidade está engordando. A projeção da OMS é que o mundo tenha 700 milhões de obesos. O governo gastaria mais com saúde do que com qualquer outra coisa. Se todo mundo ficasse assim, várias adaptações seriam necessárias. Para começar, João Gordo seria só João. E Jô Soares diria apenas: “beijo do Jô”.
Sua poltrona teria um novo status no cotidiano
UFC – Brasileirão
Esqueça o futebol. Ele seria mais próximo das peladas de domingo. Isso porque problemas articulares impediriam a prática de esportes de impacto, como também o vôlei e o basquete. “Obesos poderiam ter mais sucesso em esportes que exigem menos mobilidade”, explica o personal trainer Diego Sanches, de São Paulo. “Lutas de submissão como jiu-jítsu e sumô, e esportes de força como rugby e levantamento de peso, não seriam problema”.
Botões grandes e gordos
Alguns produtos teriam de se adaptar. Medidas padrões seriam revisadas. Hoje, já existem cadeiras de escritório mais largas e com capacidade para 250 quilos, além de mouses de computador próprios para mãos cheinhas. Em casa, camas com mais de 2 m de largura, como a Super King Size, que já é sucesso nos EUA, seriam muito comuns.
Gordinho lifestyle
Em um futuro gordo, seríamos obcecados pela chamada obesidade de grau 1, em que o índice de massa corporal (IMC) fica entre 30 e 34,9. Seria a nova ditadura da magreza. Hoje, o IMC de uma pessoa de peso normal fica entre 18,5 e 25. Acima de 35, é obesidade nível 2 (severa). Se o IMC é 40 ou mais, é nível 3 (mórbida). No dia a dia, a pressão da sociedade para não fumar, não beber e fazer exercícios seria mais constante, já que obesos correm mais riscos de saúde.
Orgulho obeso
A cantora Beth Ditto, que já posou nua e acima do peso, seria apenas mais uma moça exibida, não a porta-voz de um movimento a favor da auto-estima. Adele não dividiria o posto de diva pop com nenhuma magrela. E Preta Gil, finalmente, se veria livre de piadas. Modelos como Flúvia Lacerda e a Miss Brasil Plus Size Cléo Fernandes seriam como Gisele Bündchen e Alessandra Ambrósio. Estampariam outdoors e seriam símbolos sexuais.
Pimp my poltrona
Para os carros, a tendência seria a de montadoras como a Honda, que já aumentou em 6 centímetros a largura do assento do Civic – a pedido dos consumidores. Ou a Ford, que diminuiu os painéis e os bolsos laterais para aumentar os bancos do Focus. Nos aviões, em que obesos às vezes têm de comprar dois assentos, as companhias teriam a metade de passageiros por voo. E haveria novidades. As empresas pensariam em novas formas de transporte. Aliás, a Toyota já criou uma, o i-Real, espécie de poltrona hi-tech ambulante.
Mal nutrido e subdesenvolvido
O top 3 do orçamento da União é formado por previdência, saúde e educação. Só o tratamento de doenças ligadas à obesidade custa aos cofres do governo brasileiro R$ 3,5 bilhões por ano, de acordo com uma pesquisa da Uerj. Em uma sociedade obesa, os gastos com saúde assumiriam a ponta do orçamento do País. Outras áreas teriam menos investimentos, como transportes, indústria e turismo.
Fontes: Alex Leite, endocrinologista do Hospital São Luiz, São Paulo; Ana Dâmaso, coordenadora do Grupo de Estudos da Obesidade da Unifesp ; Diego Sanches, personal trainer da academia GR Sport Fitness, São Paulo; Monica Jorge, nutricionista do Departamento de Nutrição da USP