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Encontradas primeiras evidências de seres vivos que se alimentam de vírus

Análise de protistas Picozoas (parentes das amebas) mostra que eles carregam material genético de vírus que não teriam motivo para infectá-los.

Por Carolina Fioratti
2 out 2020, 18h10

Em julho de 2009, pesquisadores do Laboratório Bigelow para Ciências do Oceano (EUA) foram ao Golfo do Maine para coletar amostras da água do mar. Em janeiro e julho de 2016, o processo se repetiria no Mediterrâneo, em uma região que banha a Catalunha, na Espanha. A ideia dos cientistas era verificar os lanches favoritos dos protistas – seres unicelulares como as amebas, que são maiores que as bactérias e costumam comê-las.

A descoberta foi maior do que a encomenda: os cientistas podem ter identificado os primeiros seres vivos que se alimentarem de vírus. O estudo foi publicado em setembro no periódico científico Frontiers in Microbiology.

O reino dos protistas é uma Mansão Foster biológica: uma categoria bagunçada em que incluímos todos os seres vivos que têm mitocôndrias e o DNA guardado em um núcleo, mas não são plantas, animais nem fungos. Além das já citadas amebas, também são protistas as algas e criaturas estranhas como os mofos do lodo.  

Os vírus, por sua vez, são pedacinhos minúsculos de molécula de DNA ou RNA envolvidos em um pacotinho de proteína, que só conseguem se reproduzir sequestrando células de outros seres (como as nossas). Há uma polêmica sobre os vírus serem ou não seres vivos, mas isso você pode destrinchar neste outro texto da SUPER.

Sabendo disso, voltemos ao estudo. Os pesquisadores isolaram 1.698 protistas e sequenciaram todo o DNA encontrado dentro deles. Inclusive DNA que não era deles. Pense assim: se aquele protista tivesse batido um prato de bactérias em seu almoço, o DNA do almoço apareceria nas medições. De fato, a barriga cheia foi verificada em 19% dos protistas do Golfo e 48% dos protistas do Mediterrâneo. 

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Mas claro que a maior surpresa foi outra. Evidências de material genético viral apareceram em 51% dos seres do Golfo e em 35% daqueles do Mediterrâneo. A maior parte desse material corresponde a vírus que infectam bactérias. O mais provável, portanto, é que o vírus tenha ido parar dentro do protista porque estava infectando uma bactéria que ele comeu. Ah, que linda é a cadeia alimentar microscópica. 

Por outro lado, análises feitas nos protistas Chonozoas e Picozoas, que só apareceram em amostras do Golfo, indicaram que todos os seres destes filos carregavam amostras de material genético viral sem, necessariamente, apresentar DNA bacteriano. 

A hipótese dos pesquisadores é que esses organismos se alimentam de vírus por meio da fagocitose, ou seja, usam a membrana plasmática para englobar o alimento e depois o digerem dentro da célula. A escolha dos vírus como prato principal pode estar relacionado ao tamanho destes protistas.

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Os Chonozoas têm entre 3 e 10 micrômetros, enquanto o Picozoas alcançam, no máximo, os três micrômetros. Os vírus têm entre 0,02 e 0,3 micrômetros, bem menores do que as bactérias, que podem chegar a 1,5 micrômetro. Ou seja, Para estes protistas, principalmente os Picozoas, é mais fácil “engolir” um vírus do que uma bactéria.

Pode ser, é claro, que o vírus tenha apenas infectado nosso amigo Picozoas ou ficado preso em seu interior por acidente. Mas os pesquisadores consideram essas possibilidades improváveis por dois motivos: o primeiro é que todos os Picozoas apresentam quantidades parecidas de genoma viral em seu recheio – parece um padrão, e não algo acidental. O segundo é que esses vírus são do tipo que infectam bactérias. Em princípio, eles não têm as ferramentas necessárias para sequestrar um protista.

Ainda são necessários novos estudos para confirmar esse cardápio inovador. Mas há uma chance de que finalmente os vírus sejam as vítimas, e não os carrascos, de uma das muitas histórias da evolução biológica.

 

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