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Engoliu uma peça de Lego? Saiba quanto ela demora para sair do outro lado

6 pediatras corajosos engoliram pecinhas de propósito. Ligaram o cronômetro. E depois vasculharam o próprio cocô atrás delas.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 jan 2023, 22h05 - Publicado em 28 nov 2018, 17h50

Você já pisou em uma pecinha de Lego? Se pisou, aposto que não esqueceu: a dor é comparável a de parir um bebê. Ou morrer sufocado nas nuvens de Júpiter. Ou cortar o dedo com papel sulfite. Ou (insira aqui sua forma favorita de tortura).

Acontece que pisar em Lego é coisa de pai ou mãe – esses corajosos colonizadores que desbravam a bagunça do quarto das crianças sem chinelo no pé. As crianças em si gostam mesmo é de engolir Lego.

Você sabe como começa: o encaixe está muito rígido. Não dá para soltar as pecinhas com as mãos. Mas não há nada que um dentinho de leite e mandíbulas não resolvam. Aí a pecinha escapa dos lábios, escorrega pela língua e, quando você vai ver, já está trilhando um longo caminho rumo ao estômago do filhote de Homo sapiens.

Há muitos estudos científicos sobre o que acontece quando crianças engolem objetos mais triviais, como moedas (geralmente elas saem nas fezes em no máximo 2 semanas, sem causar danos). Mas o desfecho digestivo dos brinquedos de montar – igualmente suscetíveis a virar comida involuntária – não é tão conhecido.

Por isso, o site Don’t Forget the Bubbles – que fornece conteúdo especializado para pediatras – organizou um experimento científico inusitado para comemorar o ano novo: seis voluntários, que são da equipe do próprio site e têm formação médica, engoliram de propósito uma peça de Lego. Mais precisamente, a cabeça amarela de uma figurinha, como as do tweet aqui embaixo.

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Depois, nossos heróis vasculharam o próprio cocô por dias para descobrir quanto tempo se passava entre o momento da ingestão e a saída da dita cuja pelo outro lado. Os resultados foram publicados no Periódico de Pediatria e Saúde Infantil (a Super achou melhor citar o nome completo da revista científica, só para vocês realmente entenderem que o caso é sério).

Conclusão: a média de tempo entre comer e defecar o pedaço de plástico ficou em 1,71 dia – ou 41 horas –, o que é bastante rápido. Mesmo. Sua tubulação dá muitas e muitas voltas antes de alcançar a porta de saída. O intestino delgado, sozinho, alcança uns 7 metros esticado. Muita comida por aí não percorre o trajeto nesse pique, como bem sabem os fãs de feijoada. Além disso, esse tempo também inclui o período que os pesquisadores passaram procurando os itens na “matéria-prima”.

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Os pediatras, contagiados pelo clima de Natal, deram até siglas engraçadinhas para os dados colhidos. Um deles é o FART (found and retrieved time, em português, “tempo de busca e recuperação”). A sigla, naturalmente, significa “pum”. Outro foi SHAT (stool hardness and transit, em português, “rigidez e trânsito das fezes”). Esse indicador mede a eficiência do sistema digestório do cidadão. 

Só um efeito colateral foi registrado: um dos colaboradores não conseguiu eliminar a pecinha. Ela está dentro dele. Até agora. A equipe afirmou, em um comunicado oficial: “Vai saber o que foi dela? Talvez um dia, daqui muitos anos, um gastroenterologista, ao fazer uma colonoscopia, encontre a cabeça olhando para ele”.

Cientistas um pouco mais ranzinzas não gostaram muito do experimento. É caso do tweet abaixo. Traduzindo: “Infelizmente eu não consigo entender. É engraçado e interessante, mas o perfil dos pacientes está errado, leva em conta só um tipo de corpo estranho [isto é, analisa só um tipo de pecinha engolida] e a amostra é pequena. Isso não é Medicina Baseada em Evidências (EBM), e não deve influenciar a prática médica.”

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Bem, é óbvio que nenhum pediatra deve realmente basear um atendimento médico neste clássico instantâneo da literatura científica: crianças não são adultos pequenos, as conclusões que valem para um não valem para o outro. Se possível, evite que seu filho engula o que quer que seja. O Don’t Forget the Bubbles tem plena consciência disso – afinal, ele é produzido por pediatras –, e por isso incluiu uma nota de esclarecimento ao final da página em que o experimento é anunciado:

“Com uma amostra tão pequena, é importante não extrapolar os dados para a totalidade da população de engolidores de LEGO. Piadados [piada + dados] do Twitter sugerem que um grande número de pessoas acidentalmente ingeriram LEGO ao longo de suas vidas, sem efeitos adversos.” Viva todas as pecinhas que engoli (e nunca recuperei)!

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