Esgotamento dos recursos naturais
O mundo está em crise. O uso excessivo dos recursos do planeta pelos humanos está levando a Terra a uma situação de risco nunca vivenciada antes. Pela primeira vez na história, uma espécie pode ser responsável por uma extinção em massa
Alessandro Greco e Denise Barros
A Organização Mundial do Comércio (OMC) afirma em seu relatório World Trade Report – Natural Resources que recursos naturais são “estoques de materiais existentes em ambiente natural que são escassos e economicamente úteis”. Ou seja, se forem usados de forma excessiva (e estão sendo) terminarão e teremos (já temos um) problema dos grandes.
Nesses recursos naturais não estão incluídos apenas petróleo, gás natural ou carvão. Alimentos também fazem parte dele assim como a água potável, o bem mais necessário à continuidade da vida de boa parte dos animais, homens principalmente. O responsável por tudo isso é nossa espécie. A situação é tão grave que, em março, cientistas liderados por Anthony Barnorsky, da Universidade de Berkeley, na Califórnia, Estados Unidos, publicaram um estudo mostrando que estamos caminhando a passos largos na direção da sexta extinção em massa, uma situação na qual 75% das espécies do planeta simplesmente deixarão de existir.
Nos últimos 540 milhões de anos, esse fenômeno ocorreu apenas cinco vezes. A última extinção em massa, 65 milhões de anos atrás, dizimou, entre outros, os dinossauros, e foi fruto da queda de um asteroide na Terra (leia mais na pág. 48). Na avaliação dos pesquisadores, o extermínio pode ocorrer em um período que varia de 22 mil a 600 mil anos, um tempo ínfimo do ponto de visto geológico. O curioso, para não dizer trágico, é que o homem provavelmente sobreviveria à hecatombe, segundo os pesquisadores, apesar de ser ele o causador da desgraça devido ao uso excessivo dos recursos naturais do planeta. Veja nas próximas páginas oito recursos que estão a perigo.
ÁGUA
O abastecimento de água doce do planeta está ameaçado e, em consequência, nossa sobrevivência também. Quem alerta é a Organização das Nações Unidas (ONU). Mais de 1 bilhão de pessoas (18% da população mundial) não têm acesso a uma quantidade mínima de água para consumo. Agora, se mantivermos nosso padrão de consumo e de devastação do meio ambiente, o quadro irá se agravar muito rapidamente. Em 2025, dois terços da população do planeta (5,5 bilhões de pessoas) poderão ter dificuldades de acesso à água potável. Em 2050, o número pode chegar a 75% da humanidade.
ALIMENTOS
Estimativas da FAO, braço da ONU para a agricultura e a alimentação, mostram que para alimentar a população humana em 2050 – até lá seremos 9,1 bilhões de terráqueos – a quantidade de alimentos produzidos no planeta deve aumentar em 70%. É um número e tanto. Porém, segundo a FAO, será possível alcançar essa meta. As dificuldades são muitas, entre elas o aquecimento global, que prejudica a produção agrícola de muitos países (vide o caso da Rússia na pág. 40). Em tempo: dados também da FAO mostram que atualmente um em cada seis habitantes do planeta passa fome, quase 1 bilhão de pessoas.
PETRÓLEO
O ouro negro vai acabar um dia. Não sabemos ainda quando, mas a Agência Internacional de Energia publicou em seu relatório anual World Energy Outlook, de 2010, que a produção de petróleo deve atingir seu pico por volta de 2035. Depois disso será ladeira abaixo. Ninguém sabe ainda com qual velocidade, mas que vai acontecer, vai. Ou seja: um dia, o mundo terá de viver sem petróleo, o que talvez não seja uma má ideia. O problema: a matriz energética planetária ainda é pesadamente dependente de combustíveis fósseis.
TERRAS RARAS
Um grupo de 17 elementos químicos, todos eles metais, pode fazer um grande estrago se começar a faltar. E a possibilidade de isso acontecer é grande. Conhecidos como terras raras, são usados em boa parte dos equipamentos eletrônicos e 95% da produção mundial está na mão da China – o Brasil participa com 0,5%. Ano passado, os EUA anunciaram que têm 13 milhões de toneladas cúbicas em seu território. Quanto de terra rara os EUA produziram em 2010? Zero. Este ano, a China deixou de exportá-las por um tempo para o Japão por razões políticas.
CARVÃO
Entre os combustíveis fósseis, o carvão é o que tem reservas espalhadas pelo maior número de países. Atualmente, mais de 100 têm em seu solo reservas comprovadas. As maiores estão nos Estados Unidos, Rússia, China, Índia e Austrália. Mas, como todo combustível não renovável, o carvão um dia também terá fim. Nesse caso, há até mesmo uma data estipulada: daqui a exatos 119 anos, se o consumo continuar na velocidade atual, segundo a World Coal Association. É o mesmo problema do petróleo: nossa matriz energética ainda depende maciçamente de combustíveis fósseis.
COBRE
O cobre é um dos metais mais utilizados pelo homem e deu início à Idade dos Metais. Está presente em cabos elétricos, equipamentos eletrônicos, joias, entre outros. Ao contrário de outros materiais não renováveis, o cobre é reciclável. O aumento de seu uso nos últimos anos, porém, tem sido estrondoso e chegará a um patamar em que a capacidade humana de extraí-lo do solo será menor que a demanda por ele. O cientista Tom Graedel, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e colegas calcularam que isso irá acontecer em 2100. O que acontecerá então? A verdade é que ninguém sabe.
GÁS NATURAL
Utilizado em indústrias e por automóveis, o gás natural é mais um combustível fóssil e portanto vai, um dia, terminar. A previsão é que isso ocorra antes do carvão, daqui a 45,7 anos, segundo dados da BP Statistical World Review 2010, apesar de o uso de gás natural ter caído 2,1% em 2009 (os dados de 2010 ainda não foram publicados). É importante lembrar que o estudo da BP leva em conta apenas as reservas de gás natural confirmadas e com possibilidade futura de uso – o que alivia, mas não resolve a questão.
HÁFNIO
Até 2007, ninguém dava muita bola para o metal háfnio, a não ser os fabricantes de varetas de combustível nuclear que o usam em sua composição e os de aços super-resistentes, pelo mesmo motivo. Naquele ano, a Intel anunciou que passaria a utilizar o material na fabricação de microprocessadores. Desde então, o mundo se pergunta até quando haverá háfnio. Não há atualmente sequer uma resposta para o tamanho da produção de háfnio no mundo. Ou seja: o homem criou uma necessidade mas não sabe como supri-la.