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Este sapinho tem um grito ultrassônico para afastar predadores

A pequena rã-do-folhiço, endêmica da Mata Atlântica, produz sons acima dos 20 mil Hertz, e os usa para afugentar animais e armar emboscadas.

Por Caio César Pereira
26 Maio 2024, 19h00

Se tem um lugar em que a frase “tamanho não é documento”, é a natureza. Em mais um episódio para não julgarmos o livro pela capa, pesquisadores brasileiros encontraram um anfíbio bem pequeno, mas que possui um potente grito ultrassônico.

A descoberta, publicada em um estudo na revista  Acta Ethologica e realizada por pesquisadores da Unicamp, mostrou uma habilidade até então inédita aqui na América do Sul da rã-do-folhiço (Haddadus binotatus) para espantar predadores. Elas gritam na frequência do ultrassom, que, apesar de ser inaudível para humanos, é perceptível para outros animais da floresta.

O pequeno anfíbio é uma espécie endêmica da Mata Atlântica e bastante presente por lá. Mede pouco mais de  6,4 cm de comprimento e, para se proteger, compensam esse tamanho diminuto com um grito potente.

Humanos conseguem ouvir sons que ficam numa frequência entre 20 Hertz e 20 mil Hertz. Qualquer som abaixo ou acima desse intervalo passa imperceptível para nós.

Quando essas ondas sonoras estão abaixo de 20 Hz, esse som é chamado de infrassom. Alguns animais como os elefantes se comunicam nessa frequência. 

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Já quando passam os 20 mil Hertz, essas ondas são chamadas de ultrassom, faixa que animais como os morcegos e a pequena rã-do-folhiço usam para se comunicar. 

Ao se sentir ameaçada ou perceber algum movimento de predador por perto, a rã-do-folhiço se posiciona de forma imponente e começa a cantar – numa frequência bem alta, de 20 mil a 44 mil Hertz.  A essa cantoria ultrassônica utilizada pelo pequeno anfíbio para afastar predadores, os pesquisadores deram o nome de canto de agonia.

“Alguns potenciais predadores dos anfíbios, como morcegos, roedores e pequenos primatas, conseguem emitir e ouvir sons nessa frequência, inaudível para humanos. Uma de nossas hipóteses é que o canto de agonia seja direcionado para algum deles, mas é possível que a ampla frequência seja generalista, para espantar o maior número possível de predadores”, conta em entrevista à Agência Fapesp  Ubiratã Ferreira Souza, pesquisador no Instituto de Biologia da Unicamp e autor do trabalho.

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O comportamento, entretanto, não é algo raro no mundo. Pesquisas em outras partes do mundo já mostraram pequenas rãs na China que também se comunicam através de sons ultrassônicos.

De acordo com Mariana Retuci Pontes, coautora do estudo e também pesquisadora no  Instituto de Biologia da Unicamp, é provável que mesmo aqui no Brasil, outras espécies também sejam capazes de se comunicar nessa frequência sonora.

“Uma vez que o Brasil tem a maior diversidade de anfíbios do mundo, com mais de mil espécies descritas, não seria de admirar que outras rãs também emitam sons nessa frequência.”

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Mas, de acordo com os pesquisadores, não está totalmente claro ainda se o comportamento de grito ultrassônico da rã-do-folhiço serve somente para espantar predadores. 

Outra hipótese levantada é que eles podem na verdade servir para uma emboscada, atrair um predador para o local onde estão para, no fim, ser atacado por outro animal. No meio da confusão, as rãs ficariam livres para escapar. Um plano infalível, de fazer inveja no Cebolinha.

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