Estudo liderado por brasileiro reforça a hipótese de que há um nono planeta escondido no Sistema Solar
Modelo indica influência do hipotético planeta sobre regiões fontes de cometas.

Um novo estudo liderado por um cientista brasileiro reforça a hipótese popular de que pode haver um nono planeta desconhecido em nosso Sistema Solar, oculto nos confins da nossa vizinhança cósmica.
“O estudo foi direcionado a encontrar evidências desse planeta a partir da origem e evolução dos cometas”, diz Rafael Ribeiro de Sousa, autor principal do estudo e pesquisador da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
No artigo, publicado na revista científica Icarus, os cientistas construíram um modelo da evolução do Sistema Solar em busca de evidências da influência gravitacional do planeta hipotético sobre regiões que funcionam como reservatório de cometas, e na órbita desses próprios cometas. Os resultados apontam para a existência desse misterioso Planeta Nove.
Desde que Plutão foi rebaixado para planeta anão, o Sistema Solar só possui oito planetas: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. A ideia de que pode haver um nono, muito mais distante do Sol do que os outros, não é nova: desde o século passado, cientistas levantam essa possibilidade, mas nada nunca ficou comprovado.
A hipótese mais popular atualmente foi formulada pelos cientistas americanos Mike Brown e Konstantin Batygin, em 2016. Segundo este modelo, um nono planeta na periferia do Sistema Solar explicaria algumas anomalias encontradas em planetas anões e asteroides que orbitam o Sol depois de Netuno, e, por isso, são chamados de “objetos trans-netunianos”.
Acontece que alguns desses objetos, entre eles o planeta anão Sedna, têm órbitas estranhas: alongadas, oblíquas e inclinadas demais em relação ao plano em que os oito planetas do Sistema Solar orbitam nossa estrela. Além disso, seus periélios (ponto em que ficam mais próximos do Sol) ocorrem todos na mesma região do espaço.
Segundo Brown e Batygin, a existência de um Planeta Nove explicaria o aparente alinhamento desses objetos trans-netunianos, já que sua gravidade influenciaria suas órbitas.
Desde que o modelo foi formulado, outros estudos foram feitos, por diversos pesquisadores, buscando confirmar ou refutar a hipótese do Planeta Nove. Apesar de alguns novos indícios terem sido encontrados, porém, ele nunca foi avistado – e permanece hipotético. Explicamos essa história em detalhes nesta reportagem.
Uma busca diferente
O novo estudo, feito em parceria com cientistas dos EUA e da França, construiu um modelo que simula a evolução do nosso Sistema Solar ao longo de bilhões de anos. Em vez de objetos trans-netunianos, que estão muito distantes e são difíceis de observar, os cientistas focaram em asteroides, muito mais comuns e bem mapeados.
No nosso Sistema Solar, há duas principais fontes de cometas: o Cinturão de Kuiper, na periferia da nossa vizinhança cósmica, e a Nuvem de Oort, ainda mais distante.
Na simulação, os pesquisadores incluíram a presença do nono planeta para verificar como nosso Sistema Solar evoluiria com sua existência ao longo de 4,5 bilhões de anos. Os resultados mostraram que seria bem parecida com a atual – inclusive, o hipotético planeta levaria à formação das regiões do Cinturão de Kuiper e da Nuvem de Oort.
A equipe também comparou o modelo com a trajetória de alguns cometas bem documentados, e descobriram que os resultados bateram: “A influência do Planeta Nove consegue produzir a órbita dos cometas observados”, conta Sousa.
A conclusão, portanto, reforça a ideia de que há um planeta escondido no Sistema Solar. De qualquer forma, ele permanece hipotético e novos estudos e modelos mais refinados podem tirar a prova.