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Falcões australianos ateiam fogo à mata para caçar animais

Biólogos perceberam o que aborígenes sabiam há 40 mil anos: falcões australianos carregam galhos em chamas para incendiar o cerrado – e facilitar o almoço

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
10 jan 2018, 15h55

O parque de diversões favorito dos fãs de Darwin sem dúvida é a Austrália. Cangurus têm carrinhos de bebê embutidos no abdômen, ornitorrincos caçam com um sexto sentido eletroquímico, e até os falcões – que supostamente eram meros falcões – aprenderam um truque cruel antes mesmo do Homo sapiens: atear fogo à mata. De propósito, que fique bem claro.

A descoberta foi publicada no fim de 2017, neste artigo científico. As três espécies de falcão envolvidas, caso você esteja interessado na ficha completa dos esquentadinhos, são o Milvus migrans, o Haliastur sphenurus e o Falco berigora. Já se sabe há algum tempo que esses caçadores ficam na espreita em incêndios florestais, capturando animais menores quando eles tentam escapar do fogo. O que ficou claro, agora, é que os incêndios, muitas vezes, são iniciados pelos próprios falcões – justamente com o intuito de transformar presas amedrontadas em almoço.

O hábito de defumar as vítimas, vale a ressalva, só é novidade para a ciência ocidental: os nativos australianos já sabiam da prática há muito tempo, mas os relatos não alcançavam biólogos. “Eu já vi um falcão pegar um galho incandescente com as garras e soltá-lo sobre uma superfície de grama seca a meia milha de distância”, afirmou o médico aborígene Waipuldanya em sua autobiografia, de 1962. O relato está no LiveScience. “Depois, eles esperam com seus pares pela fuga desesperada de roedores e répteis chamuscados”, completa.

“Nós não descobrimos nada”, afirmou Mark Bonta, um dos autores, à National Geographic. “A maior parte das informações que usamos foram colhidas em colaboração com os aborígenes. Eles provavelmente sabem disso há mais de 40 mil anos.” Segundo a revista, especialistas em pássaros australianos estão impressionados com a informação de que os incêndios são intencionais, e os pesquisadores, em parceria com bombeiros locais, estão tentando registrar o comportamento dos caçadores com fotos e vídeos.

25% do território australiano é composto de savanas, ambientes propícios à propagação do fogo. Segundo este artigo científico, no mundo todo, 75% das áreas cobertas por savanas tropicais (como o cerrado brasileiro) queimam todos os anos, seja por ação do homem, seja por motivos naturais. Os incêndios, em muitos casos, são parte do equilíbrio ecológico desses ecossistemas – e sua manipulação por pássaros caçadores reforça essa visão.

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