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Fósseis indicam que vida na Terra começou há mais de 3,5 bilhões de anos

Rastros deixados por micro-organismos em uma rocha de 3,5 bilhões de anos já indicam formas de vida variadas e razoavelmente desenvolvidas – o que significa que a origem da vida é mais antiga do que se pensava

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
20 dez 2017, 18h21

Essa notícia deve começar com cautela. A data da origem da vida na Terra é um dos números mais disputados da ciência. Artigos científicos recentes (como este, publicado pela Universidade de Leeds em março deste ano) afirmam que o surgimento dos primeiros micro-organismos se deu há qualquer coisa entre 3,77 e 4,28 bilhões de anos. É uma janela coerente: está de acordo com as datas mais aceitas para a formação do planeta Terra em si – há 4,54 bilhões de anos – e a formação dos primeiros oceanos – há 4,41 bilhões de anos.

A SUPER deu essa notícia e, à época, citou algumas ressalvas da comunidade científica ao estudo. Alguns pesquisadores afirmaram que o material orgânico encontrado nas rochas analisadas, no interior de tubos microscópicos cavados por bactérias, poderia ser apenas uma contaminação, ocorrida em um período mais recente. Ou, pior ainda, que não teria nada a ver com vida. “As evidências poderiam igualmente ser interpretadas como não-biológicas”, afirmou à imprensa a astrobióloga Abigail Allwood, da Nasa.

Os microfósseis – isto é, fósseis de organismos microscópicos – anunciados pelo artigo científico que motivou esta notícia, publicado na última segunda (18), têm outra origem. Se os de março foram extraídos de rochas encontradas no Canadá, estes vieram de amostras de origem australiana que já eram conhecidas desde 1982, mas foram submetidos a novos métodos de análise, que levaram uma década para serem desenvolvidos. Cada microfóssil tem 0,001 milímetros – para você entender a dimensão da coisa, oito deles seriam necessários para alcançar a espessura de um fio de cabelo.

O substrato que continha os microfósseis tem 3,5 bilhões de anos – aproximadamente a mesma idade que era tida como consenso para o surgimento da vida na Terra até o estudo questionável de março. Isso torna esses fósseis as evidências diretas mais antigas de vida no nosso planeta. Apesar disso, os responsáveis da descoberta não veem motivo para ceticismo: um estudo foi incapaz de dar provas consistentes da existência de vida com mais de 4 bilhões de anos, mas isso não significa que ela não tenha existido. “Nós não temos evidências diretas de que existia vida há 4,3 bilhões de anos, mas não há razão para que não tenha havido”, afirmou à imprensa John Valley, geocientista da Universidade de Wisconsin-Madison e um dos líderes do estudo. “Isso é algo que todos nós gostaríamos de descobrir.”

Seu parceiro de laboratório, o paleobiólogo William Schopf, da Universidade da Califórnia, vai além, e afirma que, se já existiam micro-organismos razoavelmente avançados há 3,5 bilhões de anos, então a vida em si com certeza surgiu antes disso – independentemente de termos evidências palpáveis. “A vida precisa ter começado consideravelmente antes – ninguém sabe o quanto antes”, explicou. “Isso confirma que não é difícil para formas de vida primitivas se formarem e evoluírem para micro-organismos mais desenvolvidos.”

O estudo atual já leva em consideração críticas feitas a tentativas anteriores de análise do mesmo fragmento de rocha, feitas em 1992 e 2002, e tem bases mais sólidas que o de março. As análises do carbono nas amostras revelaram padrões de decaimento característicos de seres vivos, associados à atividade metabólica. Alguns dos microfósseis provavelmente eram de organismos que produziam ou consumiam metano, outros eram de organismos que já haviam aprendido a retirar energia da luz do Sol. Ou seja: dessa vez é mesmo bem provável que você esteja olhando para os seus tatatatatatatatatataravós.

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