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Fóssil de réptil indica que amor materno já existia há 300 milhões de anos

Toco de árvore no Canadá continha fósseis entrelaçados de um réptil adulto e seu bebê, que ele tentava proteger de um desastre natural.

Por A. J. Oliveira
24 dez 2019, 00h05

Pouco mais de 300 milhões de anos atrás, duas criaturas morreram de forma trágica. Elas estavam dentro de um buraco no toco de uma árvore, até que um evento drástico soterrou a cavidade com sedimentos. Cientistas acham que a toca foi inundada em uma tempestade. Esses répteis, parecidos com lagartos, forneceram uma evidência sólida de que pais e mães já cuidavam de suas crias 40 milhões de anos antes do que se esperava.

Havia dois fósseis de vertebrados quadrúpedes no interior do antigo toco — um maior, outro menor. O grande media cerca de 20 centímetros do focinho até a base da cauda e foi fossilizado em uma posição curiosa junto do réptil pequeno. O bichinho estava embaixo de uma das patas do bichão, e enrolado pela sua cauda. É um indício convincente de que a mamãe (ou o papai) tentou proteger o filhote do perigo iminente. Não conseguiu.

Mas, para os cientistas, o sacrifício desses animais foi de grande valor. Pertencentes a uma espécie até então desconhecida da família Varanopidae, bem mais antiga que os dinossauros, os répteis sugerem que o cuidado parental é um comportamento que existe desde não muito depois de os vertebrados dos ambientes aquáticos invadirem a terra firme, por volta de 400 milhões de anos atrás. 

A descoberta ocorreu na ilha de Cape Breton, que fica na província de Nova Escócia, ao leste do Canadá. Outro fato inusitado é que quem encontrou os restos mortais das criaturas foi Brian Hebert, um sujeito que não é paleontólogo profissional, mas sim um entusiasta de fósseis e dono de uma lojinha de souvenirs. Hebert também organiza passeios nas falésias de Joggins, litoral riquíssimo em fósseis. Ele é parte da equipe de campo de Hillary Maddin.

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Maddin é pesquisadora da Universidade de Carleton em Ottawa e foi uma das autoras do artigo, publicado nesta segunda (23) na Nature Ecology and Evolution. “Esses fósseis muito frágeis, especialmente o bebê, estão preservados em uma posição muito natural e devem ter sido enterrados muito rapidamente”, ela disse ao jornal The Guardian. O estudo é importante pois enriquece o debate em torno do surgimento do tal “amor materno”.

O cuidado parental é uma estratégia que muitos animais desenvolveram para aumentar as chances de sobrevivência de sua prole. Pode assumir diversas formas, desde o ato das aves construírem ninhos, até os polvos, que guardam diligentemente seus ovos. Muitos param por aí, quando o filhote vem ao mundo, mas alguns bichos continuam cuidando de seus filhos por um período prolongado de tempo depois do parto ou que os ovos chocam.

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Essas criaturas que optam por prover comida e proteção aos seus pequenos descendentes proporcionam uma probabilidade ainda maior de que eles sobrevivam neste mundo cão, repleto de perigos e predadores. Além dos répteis e das aves, nossa própria classe, os mamíferos, fornece o melhor exemplo de cuidado parental. Afinal, nosso zelo é tamanho que as mamães produzem  leite para alimentar seus filhos. Tudo tem um preço: os próprios pais acabam um pouco debilitados com tamanho esforço de tempo, recursos e energia.

Os cientistas ainda não sabem se a família dos Varanopidae a que pertence a espécie, batizada de Dendromaia unamakiensis, é de um ramo evolutivo que deu origem aos mamíferos, como se pensava antes, ou se é ancestral só dos répteis. Ambos os cenários confirmam que o cuidado parental surgiu cedo, e é possível que tenha evoluído paralelamente em grupos distintos de animais, de diferentes períodos de tempo. 

Steve Brusatte, um paleontólogo da Universidade de Edimburgo ouvido pelo Guardian, resume bem o fascínio que essa descoberta evoca. “É incrível pensar que algo que consideramos tão humano — pais tomando conta de seus filhos — foi desenvolvido há tanto tempo, em ancestrais tão distantes, quando o mundo era diferente demais.”

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