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França descobre novo (e inusitado) jeito de rastrear o coronavírus: pelo esgoto

Cientistas encontraram correlação entre as concentrações do vírus no esgoto de Paris e o número de casos. Agora, esperam usar a estratégia para prever novas ondas da doença.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 23 abr 2020, 16h40 - Publicado em 23 abr 2020, 16h28

Por mais de um mês, uma equipe de pesquisadores franceses procurou pelo novo coronavírus em um lugar pouco usual: o sistema de esgoto de Paris. Os resultados da pesquisa mostraram que a concentração do vírus nas amostras seguiu o mesmo padrão da curva de casos da doença na região.

Ou seja: quando havia um aumento do vírus encontrado no esgoto, aumentava também o número de doentes em hospitais nos dias seguintes. Isso significa que, possivelmente, analisar esgotos pode ser uma estratégia para rastrear a progressão da doença no curto prazo e prever novas ondas.

Anteriormente, já se sabia que fezes de pacientes infectados podem carregar o SARS-CoV-2 em pequenas quantidades (embora a contaminação por esse meio pareça ser muito improvável). Inclusive, não é a primeira vez que uma equipe encontra traços do vírus em esgotos, mas o novo estudo foi pioneiro em mostrar a correlação entre a presença do vírus nas amostras de esgotos com o número de casos no sistema de saúde nos dias subsequentes.

Vale esclarecer que, uma vez eliminado pelas fezes, o vírus não dura muito no esgoto e logo se degrada. Mas é possível encontrar resquícios de seu material genético através de reações químicas, que revelam diferentes concentrações de vírus. E essa maior concentração de vírus, por sua vez, indica que há mais pessoas infectadas naquela região.

Os resultados mostraram que, até 3 dias depois de um aumento da concentração ser identificado, um maior número de casos também era registrado no sistema de saúde da mesma região. Possivelmente. graças à parte das pessoas que haviam contribuído para a presença do vírus no esgoto dias antes – se é que você entende.

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De forma geral, a curva das concentrações virais acompanhou também a curva do número de casos na cidade, incluindo com uma queda acentuada depois que Paris entrou em quarentena geral.

Como usar o esgoto para conter a pandemia?

A pesquisa também indica que a estratégia de testar esgotos pode ser uma alternativa eficiente para acompanhar a progressão da doença, já que a maioria dos países não está conseguindo conduzir um número de testes grande o bastante para gerar dados satisfatórios e rastrear a rede de transmissão em seus territórios – algo considerado crucial para controlar a crise e que vem dando certo em países como Islândia e Alemanha.

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Além de ser um método barato e consideravelmente simples, analisar o esgoto também tem a vantagem de incluir pessoas com casos leves ou assintomáticos. Elas possuem e transmitem o vírus, mas dificilmente são testadas, já que, muitas vezes, nem vão ao hospital.

Esse tipo de abordagem poderia prever novos picos da doença quando a quarentena terminar, por exemplo, e mostrar quais áreas enfrentarão piores crises nos dias subsequentes, permitindo que o sistema da saúde daquela região se prepare com antecedência. Algo parecido aconteceu em 2013: cientistas conseguiram prever um surto pequeno de poliomielite em Israel antes de qualquer caso ser confirmado, apenas analisando o esgoto da região.

Os resultados, claro, são iniciais: são necessários outros estudos para verificar se a correlação também existe em outros lugares do mundo, e o quão confiável essa base de dados é. E esse não é um método que substitui a testagem convencional, já que só é possível calcular estimativas gerais sobre determinadas áreas, e não identificar individualmente casos.

Além da França, outros países estudam adotar essa abordagem. A Austrália, que também detectou o vírus em seu sistema de esgoto, já desenha o seu projeto de testagem através da Universidade de Queensland. Estados Unidos, Canadá e Holanda também têm iniciativas parecidas em fases iniciais.

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