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Há 800 milhões de anos, Terra era mais diversa do que imaginávamos

O consenso científico era de que só algumas bactérias existiam na época. Mas um estudo brasileiro encontrou vários seres eucariontes mais complexos.

Por Eduardo Lima
Atualizado em 7 ago 2024, 18h35 - Publicado em 7 ago 2024, 18h00

800 milhões de anos atrás, a Terra era bem diferente. A Pangeia, o supercontinente que originou os que temos hoje, nem sequer existia. Agora, reconstituindo a árvore da vida, pesquisadores brasileiros descobriram que o planeta naquela época era muito mais diverso do que os cientistas imaginavam.

As descobertas sobre a história evolutiva das amebas e dos primeiros ancestrais das algas, fungos, plantas e animais foram publicadas na revista Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (PNAS).

Há 1,5 bilhão de anos, surgiram os primeiros organismos eucariontes – grupo que tem células com núcleo delimitado por uma membrana e material genético organizado lá dentro, diferentemente, por exemplo, das bactérias. O que há pesquisa descobriu é que, há 800 milhões de anos, várias linhagens desses seres diversificaram intensamente. Na era do Neoproterozoico, os oceanos passaram por uma oxigenação profunda, aumentando a biodiversidade do planeta.

Essa diversidade conseguiu sobreviver até a dois eventos de glaciação durante o período Criogeniano, quando o gelo dos polos cobriu o planeta inteiro por cem milhões de anos, formando a Terra Bola de Neve.

Mudando o consenso científico

Antes dessa descoberta brasileira, o consenso científico era que a Terra no Neoproterozoico era quase vazia, com uma ou outra bactéria simples. Nos últimos 15 anos, alguns fósseis dessa época foram descobertos pelo mundo todo, mostrando a presença de seres unicelulares, eucariontes e que não produziam o próprio alimento.

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Esses fósseis de 800 milhões de anos agora se juntam à reconstituição da árvore da vida dos cientistas brasileiros, mudando o entendimento de como começou a diversificação da vida na Terra.

A pesquisa, com apoio da FAPESP, mostra que a diversificação da vida ocorreu pelo menos 260 milhões de anos antes da revolução do Cambriano, há 540 milhões de anos. Essa revolução foi uma explosão de espécies pluricelulares sem precedentes, numa época em que a Terra já tinha clima moderado e úmido, sem geleiras.

A reconstituição da árvore da vida, feita com matemática probabilística, mostrou que essas primeiras espécies eucariontes tinham um grande poder de adaptação a mudanças climáticas. Um dos casos de adaptação é o das amebas Arcellinida, que viviam na água salgada e agora, em todas suas linhagens, mudaram para a água doce como habitat.

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O estudo usou uma técnica inovadora chamada de single-cell transcriptomics (“transcriptomia de célula única”, em tradução livre). Com ela, eles sequenciam o transcriptoma de um ser unicelular, que é a parte do genoma que está sendo expressa no ser vivo. Fazendo isso, dá para retroceder na linhagem evolutiva e identificar as espécies parentes que viveram no passado.

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