Ideia 9: O resgate do cocô
Desenvolver modos de produção circulares, em que até nossos resíduos são reaproveitados, é a única forma de poupar o meio ambiente
Cristine Kist
Há três mil anos, quando um chinês ia jantar na casa de um amigo, ele obrigatoriamente tinha que ir até o quintal desse amigo e fazer um “número dois” por lá mesmo. É que a etiqueta da época dizia que era feio comer na casa de alguém e não “devolver os nutrientes”. Faz tanto sentido que, atualmente, o arquiteto William McDonough e o químico Michael Braungart trabalham para trazer essa ideia de volta à moda, desenvolvendo e divulgando modos de produção circular, em que os resíduos – inclusive o cocô – são usados para criar novos produtos tão bons quanto os originais.
Hoje, quando você puxa a descarga, está automaticamente usando um monte de água potável para enviar tudo para o esgoto, e o cocô provavelmente acabará despejado num rio. Às vezes, no mesmo rio de onde vem a água da sua torneira. É um processo linear, em que a indústria gasta matéria-prima e energia para produzir a lasanha congelada que mais tarde vira o seu cocô, e o seu cocô vira só um monte de lixo.
Baseados na proposta de McDonough e Braungart, pesquisadores do mundo inteiro têm procurado maneiras de aproveitar o nosso “número dois” de cada dia. Na cidade de Didcot, na Inglaterra, um projeto piloto já permite que 200 famílias aqueçam suas casas com biometano fabricado a partir de seu próprio cocô. Além de poupar o meio ambiente, eles economizam dinheiro. Uma ideia que cheira bem.
Tudo se transforma
Como reciclar o cocô para gerar energia, água e adubo
1. Quando os dejetos chegam à estação de tratamento de esgoto, a parte líquida e a sólida são separadas por decantação. A água é tratada e despejada em um rio.
2. A parte sólida é enviada para biodigestores anaeróbicos. Ali dentro, bactérias transformam a matéria orgânica em gás metano e CO2. As sobras são usadas como fertilizante.
3. Uma usina de biogás remove o cheiro e as impurezas do gás, deixando-o próprio para o uso doméstico.
4. O gás é enviado para a rede de distribuição normal e as pessoas podem usá-lo para cozinhar e no sistema de calefação. Na planta inglesa, esse ciclo se completa em 23 dias.