Assine SUPER por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Ilhas Galápagos voltam ao palco principal da ciência

Agora é a vez dos cormorões, que ajudam a explicar porque certas espécies de aves desaprendem a voar.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 8 jun 2017, 12h38 - Publicado em 8 jun 2017, 12h38

Há quase 200 anos – já diria seu livro de biologia do ensino médio – o naturalista britânico Charles Darwin, a bordo do brigue HMS Beagle, desembarcou nas Ilhas Galápagos, no Oceano Pacífico. Observando os bicos dos tentilhões, pássaros típicos do local, teve uma das sacadas mais importantes da ciência: a Teoria da Evolução, explicada na obra A Origem das Espécies, de 1859.

O pesquisador, é claro, já saiu da vida para entrar na história (veja detalhes aqui). Mas a fama eterna e garantida não deixou o arquipélago – localizado a mil quilômetros da costa do Equador – com preguiça de inspirar novas gerações de cientistas: suas espécies únicas continuam gerando boas descobertas com frequência; a última delas publicada no periódico Science nesta semana.

Pesquisadores de universidades americanas descobriram por que pássaros chamados cormorões-de-Galápagos, típicos da região, são os únicos de sua família biológica com asas pequenas demais para voar. E a resposta está em um gene que, no ser humano, é responsável por uma série de graves doenças genéticas conhecidas genericamente como ciliopatias.

Acontece o seguinte: há 2 milhões de anos, o cormorão-de-Galápagos se tornou o único dos mais de 40 membros da família Phalacrocoracidae – entre eles o biguá, 100% brasileiro – que não consegue levantar voo. Suas pequenas asas ficam ótimas em vídeos fofos, e só.

Foi mais um capítulo exótico da seleção natural no arquipélago. Lá, a habilidade de voar não colabora muito com a sobrevivência: há poucos predadores, e esses animais conseguem a maior parte da comida de que precisam mergulhando nas águas rasas da costa. Com o tempo, pássaros pé no chão deixam mais descendentes que os que têm a cabeça nas nuvens.

Curiosos para saber qual alteração genética permitiu a mudança, Alejandro Burga e sua equipe falaram com a ecologista Patricia Parker, da Universidade de Missouri, que, graças a pesquisas anteriores, tinha mais de 2 mil amostras de material genético da espécie na geladeira.

Continua após a publicidade

Explicação rápida: esse é um caso curioso de pesquisa que não poderia ter sido feita de outra forma. Há muitos outros pássaros selvagens incapazes de voar – o avestruz e o emu são alguns dos exemplos mais famosos. Mas estudá-los não é muito frutífero, porque todos os seus parentes voadores já foram extintos. Sem comparar o DNA desses grandões com o material genético de um animal similar, mas com asas funcionais, fica difícil saber em qual gene específico ocorreu a mudança que os impediu de voar.

Cormorões voadores, por outro lado, estão muito bem, obrigado, e são comuns no mundo todo. Isso significa que há baldes de pássaros “normais” muito parecidos com os cormorões-de-Galápagos, cujo material genético pode ser usado como base de comparação para entendê-los melhor.

O truque deu certo. Descobriu-se que principal diferença entre eles e seus parentes é o gene Cux1, responsável pelo crescimento de estruturas chamadas cílios no exterior das células. Bactérias solitárias usam seus cílios para andar por aí, mas em seres vivos complexos como aves e mamíferos, eles assumem a função de “antenas”, que captam comandos químicos do resto do corpo – entre eles o que dá a ordem para o crescimento dos ossos. 

No ser humano, como já mencionado, um bug no Cux1 e outros genes associados causa as ciliopatias – que vão da doença renal policística, relativamente comum, a certas formas mais raras de degeneração das retinas. Todas elas são resultado de má-formação: sem “antenas”, o corpo é incapaz de receber instruções e crescer da maneira correta. Nós pássaros, de maneira análoga, o problema nos cílios impede o crescimento completo das asas.

Continua após a publicidade

Esse seria um problema para a maior parte dos seres vivos: disfunções congênitas em geral diminuem as chances de sobrevivência de um espécime. Nas Galápagos, porém, os cormorões com asinhas de frango se deram bem, e viveram para contar a história – uma história da qual Darwin sem dúvida teria gostado. 

 

 

 

 

 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.