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Juliana Estradioto, 20, criou plástico biodegradável com casca de maracujá

Ainda no ensino médio, o trabalho da jovem gaúcha com materiais sustentáveis de origem vegetal foi premiado em feiras e mostras internacionais de ciência. Ela já ganhou um asteroide com seu nome, uma vaga no banquete do Nobel de 2019 e agora estuda na Universidade Northwestern. #MulherCientista

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 23 out 2020, 22h04 - Publicado em 23 out 2020, 18h36

Você pode fazer plástico biodegradável em casa. A matéria-prima é amido. Sim, a famosa Maizena. Mas é bom dizer que nem todo amido é de milho. Esses carboidratos compridos, chamados polissacarídeos, aparecem em muitos outros vegetais com alto teor de carboidratos, como batatas ou mandiocas. O amido, especificamente, consiste em moléculas de glicose (ou seja, açúcar) encadeadas uma na outra como um longo trenzinho.

O plástico comum também é composto de moléculas compridas baseadas em átomos de carbono e hidrogênio, os hidrocarbonetos. Uma grande cadeia de hidrocarbonetos é chamada de polímero, e existem vários tipos de polímero. Daí nomes como polietileno, poliestireno, polipropileno etc. Esses polímeros são todos obtidos a partir do petróleo. Grosso modo, o truque por trás dos plásticos biodegradáveis é produzi-los a partir de polissacarídeos em vez de polímeros.

É um grande avanço, mas esse produto ainda precisa ser extraído de vegetais e a aplicação prioritária de vegetais, evidentemente, é alimentar pessoas. Por isso, uma alternativa ainda melhor é reaproveitar resíduos orgânicos que normalmente são descartados. Os agricultores familiares da cidade de Osório (RS), por exemplo, produzem geléias deliciosas de maracujá, mas a casca da fruta não entra na receita, o que gera uma quantidade considerável de lixo. 

Aqui entra Juliana Estradioto, . A estudante do Instituto Federal de Ciência, Tecnologia e Educação do Rio Grande do Sul criou um plástico biodegradável a partir da pectina, um carboidrato presente na casca do maracujá com propriedades semelhantes às do amido. Resumidamente, ela tritura o revestimento da fruta até ele se tornar uma farinha, e então aquece esse pó.

Depois, foi a vez das sementes do maracujá – cuja superfície porosa foi empregada por Juliana para absorver poluentes (como corantes) despejados pela indústria têxtil em rios. Normalmente, esse processo é feito usando carvão ativado, que tem porosidade similar mas é muito mais caro. As sementes, que não custam nada, substituem o carvão com eficácia: extraíram 99,7% dos contaminantes em amostras de água poluída.

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Em sua terceira iniciativa, a estudante voltou a pesquisar plásticos biodegradáveis. Dessa vez, com a ajuda de uma linhagem de bactérias que produzem fios de celulose. Essas bactérias já existiam, o diferencial foi alimentá-las com cascas de macadâmia, que, como no caso do maracujá, seriam descartadas (o foco de Juliana é evitar o desperdício de resíduos vegetais). 

Os fios de celulose gerados por esses microorganismos formam uma malha ainda mais resistente e flexível que o plástico de petróleo que usamos no dia a dia. O material tem aplicações potenciais na medicina. Pode servir, por exemplo, como pele artificial para pessoas que sofreram queimaduras graves.

Juliana realizou essas três pesquisas durante o ensino médio, em laboratórios improvisados no colégio ou em casa. Ela foi motivada por um projeto escolar que visava auxiliar os agricultores familiares da região, e seu objetivo era encontrar um destino sustentável para o lixo orgânico produzido na cidade. A pessoa que mais a incentivou a fazer pesquisa foi uma de suas professoras no ensino médio técnico, Flávia Twardowski.

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A jovem pesquisadora levou o primeiro lugar na categoria de Gerenciamento do Meio Ambiente na Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia de 2018 e também na Feira Internacional de Ciências e Engenharia da Intel – que premiou a estudante com a oportunidade de batizar um asteroide com seu nome.

O reconhecimento levou a estudante a ser convidada para o Seminário Internacional de Jovens Cientistas de Estocolmo – o que incluiu um convite VIP para a cerimônia de premiação do Nobel de 2019. “Foi muito surreal. Os vencedores estavam ali e eu pude conversar com eles. A gente ficou até seis da manhã dançando com os vencedores do Nobel de Economia do nosso lado”, conta ela.

Hoje ela estuda na Universidade de Northwestern, nos EUA, e pretende trabalhar tanto com engenharia de materiais quanto com comunicação científica. “Com tudo isso que aconteceu, eu comecei a receber muitas mensagens de pessoas que descobriram que dava pra fazer ciência antes de ser universitário. E aí eu comecei a abrir os meus olhos para esse mundo da divulgação científica também”.

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