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Lagartos estão comendo formigas peçonhentas como forma de vacina

Ao ingerir os insetos, eles aumentam sua resistência imunológica às picadas venenosas.

Por Leo Caparroz
20 out 2022, 18h59

Pesquisadores analisaram uma espécie de lagartos nativa do leste dos Estados Unidos (Sceloporus undulatus) e sua resposta a uma invasora comum: as formigas-de-fogo. Com seu estudo, publicado no periódico Biological invasions, eles descobriram que, ao se alimentarem das formigas, os répteis aumentavam sua resistência à picada dos insetos.

Formigas-de-fogo (Solenopsis invicta) são uma espécie sul-americana, conhecida por ser uma invasora mundial – já infestaram Austrália, Nova Zelândia, sul da China e dos Estados Unidos. Uma das formigas mais estudadas por especialistas, essa espécie teve seu genoma sequenciado em 2011.

Elas são peçonhentas. Em humanos, sua secreção dói e causa sensação de queimação e coceira. Já em lagartos, uma dose pode ser letal.

A diferença é que animais venenosos, como alguns sapos, peixes e até pássaros, libera suas toxinas passivamente por meio de contato – seja por inalação, absorção na pele ou até ingestão do animal. Já os peçonhentos são aqueles que ativamente injetam a peçonha no corpo da vítima, usando ferrões ou presas. Esse é o caso de cobras, escorpiões e formigas.

Mas algo distinto acontece quando essas formigas picam lagartos. Pesquisadores descobriram que, ao ingerir e digerir a peçonha desses insetos, eles treinavam seus sistemas imunológicos para reagir melhor a uma mordida – assim como a gente faz com uma vacina.

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Os lagartos que viviam em áreas infestadas pelas formigas apresentavam um perfil imunológico diferente daqueles que não tinham contato com os insetos. Os cientistas então, expuseram às formigas um grupo de lagartos que não era familiar com elas. Três vezes por semana, durante três semanas, uma parte desse grupo comia as formigas, enquanto o outro recebia picadas em doses não letais.

“Realizamos uma avaliação abrangente da maioria dos ramos do sistema imunológico, incluindo medidas do sistema imunológico inato – recursos com os quais um indivíduo nasce – e o sistema imunológico adaptativo, que desenvolve recursos imunológicos após a exposição a uma substância estranha, como uma infecção ou vacina”, conta a bióloga Catherine Tylan, líder da pesquisa.

Comparados com o grupo das picadas, os lagartos que comeram as formigas tiveram três medidas imunológicas elevadas. Eles tiveram um aumento nos glóbulos brancos responsáveis pelas reações inflamatórias de uma resposta imune; um aumento em um anticorpo conhecido por responder à peçonha da formiga-de-fogo; e um aumento no suporte à resposta imune do corpo.

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“Por exemplo, os anticorpos específicos contra a formiga-de-fogo podem ajudar a atacar o veneno para que ele não impacte negativamente o corpo”, afirma Tylan. “É possível que a exposição ao veneno das formigas-de-fogo consumidas estimule um aumento na resposta imune, como uma vacina. Comer as formigas-de-fogo pode ajudar os lagartos a se prepararem para uma futura exposição à peçonha das picadas.”

Os lagartos alimentados e os selvagens que viviam junto das formigas apresentavam diversas similaridades entre seus perfis imunológicos – e que não batiam com aqueles que não eram acostumados com os insetos. Especificamente, os glóbulos brancos e anticorpos específicos de combate à peçonha eram similares entre os dois primeiros grupos, o que sugere que esses fatores sejam influenciados pela exposição às formigas.

“O consumo subletal de espécies invasoras venenosas ou peçonhentas pode reduzir as consequências negativas da exposição a essas toxinas, permitindo que espécies nativas sobrevivam e coexistam com invasores mortais”, aponta o artigo científico.

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