As descobertas do satélite COBE (Cosmic BackGround Explore) no ano passado continuam a trazer novidades exitantes para a comunidade cientifica. Os dados colhidos por esse pequeno robô parecem ter revelado um aspecto fundamental da natureza do Cosmo. Operando na faixa de microondas, ele é cego para tudo àquilo que os telescópios vêem: planetas, estrelas e galáxias. Ele enxerga diretamente a luz emitida pelo Universo, quando ele tinha 300 000 anos.
Essa idade é muito importante, pois marca a transformação fundamental em que o Universo passou de opaco a transparente. Antes disso, ele era mais quente que a atmosfera do sol e a luz estavam fortemente acopladas à matéria. Tudo o que acontecia a uma delas refletia na outra. Ou seja, sempre que a gravidade tentava aglutinar matéria, a luz agia em sentidos contrario e desmanchava os caroços.
A partir daí, o Universo ficou frio o suficiente para a luz se desacoplasse da matéria, então, e cada uma seguisse sua própria historia. A matéria, então, encaroçou, em forma de astros; e a luz pode viajar livremente através; e a luz pôde viajar livremente através do espaço, preenchendo-o uniformemente.
O extraordinário é que ainda hoje podemos presenciar esse acontecimento. O desacoplamento é como uma cortina luminosa, escondendo todo o fundo do céu: para além dela, nada pode ser visto. O Universo fica mergulhado como numa neblina impenetrável. É o mesmo quando se olha para o Sol: a superfície, onde a luz se liberta da matéria, esconde o que está atrás. Naquela cortina, entretanto, existem traços impressos que relevam o desenvolvimento do cosmo em tenras idades.
O primeiro traço é a temperatura da matéria. O COBE obteve 2,7350 graus Kelvin (-270, 415 graus Celsius), que se tornam, na verdade, quase 10 000 graus – como a região do desacoplamento está muito distante, ela se afasta da Terra, como acontece também com as galáxias, e devido a esse afastamento parece mais fria. È o que diz a teoria da relatividade. A medida da temperatura não é uma novidade, mas agora ela é conhecida com a precisão de 0,0001 graus. Daí se tira a espantosa conclusão de que, desde 1 dia até 300 000 anos de vida tinha sido terrivelmente atribuída: foi quando houve, por exemplo, a fase inicial da expansão acelerada, chamada inflação, que deu origem às partículas elementares: houve a quase total aniquilação da matéria pela antimatéria, o evento que gerou a luz medida pelo COBE; e houve a criação dos núcleos atômicos. Saber que aqueles períodos foi calmo não é dedução simples. Mas pode se ter uma idéia do raciocínio por meio uma analogia com a mistura de água e gelo. No inicio, quando se mede a temperatura da água em diversos lugares, obtêm-se valores diferentes: não houve tempo para a mistura se completar. Por isso, não há precisão sobre o conjunto das medidas. No caso do Universo, a alta precisão indica que a mistura ocorreu em breve período: já estava pronta, ou homogênea, desde o primeiro dia de vida.
Outra conclusão importante decorre de o COBE ter achado manchas de temperatura produzidas por aglomerações da matéria. O problema é que essas estruturas se espalham por todo o céu, e não teriam tido tempo para isso se tivessem sido formadas na época da recombinação Só massas próximas de matéria poderiam interagir gravitacionalmente e se aglomerar durante o tempo de vida do Universo. Isso indica as manchas têm origem primordial, remontam à área da inflação.
O COBE também viu um Universo muito pouco encaroçado. Seus contrastes de densidade são pequenos demais para que a gravidade tivesse tempo de formar galáxias tais como se vêem hoje: apresentando fortes contrastes de densidade. O baixo contraste efetivamente medido é de sinal de que as galáxias se formaram com a contribuição de um agente de natureza diversa da matéria normal (chamada de matéria bariônica). Já se sabia que o Universo não era constituído apenas por matéria luminosa: continha também a chamada matéria escura.
O COBE sugere que esta ultima não reúne apenas estrelas escuras ou massas planetárias, mas tem uma natureza ainda desconhecida, não-bariônica.