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Morcegos adquirem senso de direção com ajuda de suas mães, indica estudo

Mães morcego passeiam com seus bebês de cabeça para baixo até eles atingirem dez semanas de vida. O comportamento parece ser algo essencial para a independência do mamífero.

Por Luisa Costa
6 dez 2021, 17h54

Já pensou ser carregado de cabeça para baixo, no escuro, para aprender a se localizar em um lugar? Parece desconfortável, mas essa aventura estranha faz parte da rotina de morcegos bebês – e é essencial para que eles façam voos independentes depois, segundo as descobertas de um novo estudo.

Os morcegos são os únicos mamíferos capazes de voar e fazer viagens noite afora a partir de uma habilidade especial: a ecolocalização. Eles emitem ondas sonoras inaudíveis para nós (os ultrassons), que atingem obstáculos no ambiente e retornam na forma de ecos. A partir deles, o animal consegue identificar onde o caminho está livre.

Os pesquisadores já identificaram que, em muitas espécies (como entre os morcegos frugívoros egípcios), a mãe carrega o filhote enquanto voa procurando por comida. Ele se agarra ao corpo da mãe com a mandíbula, prendendo os dentes ao redor do mamilo, e com os dois pés.

Isso acontece com filhotes que podem chegar a 40% do peso da mãe – uma baita mala sem alça. Não estava claro por que as mães adotam esse comportamento, em vez de deixar seus filhotes na caverna, como fazem algumas espécies.

Alguns pesquisadores acreditavam que isso poderia ajudar os filhotes a aprender a voar e se localizar, mas a hipótese não estava confirmada. Então, uma equipe de cientistas da Universidade de Tel Aviv, de Israel, e do Instituto Max Planck, da Alemanha, decidiu investigar a questão. O estudo foi publicado no periódico Current Biology.

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Os pesquisadores capturaram dezenas de mães e filhotes de morcegos frugívoros egípcios em uma caverna nos arredores de Tel Aviv. Então, colocaram mini rastreadores GPS nos animais e os levaram de volta à caverna. A ideia era monitorar o comportamento dos morcegos conforme os filhotes cresciam e se tornavam independentes.

Foram cinco anos de trabalho de campo, e os pesquisadores descobriram que há um conjunto de comportamentos diferentes.

Funciona assim: quando os morcegos têm de uma a três semanas de vida, eles ficam agarrados ao corpo de suas mães, e voam junto com elas durante toda a noite. De três a dez semanas, o voo fica diferente. As mães os carregam e colocam cuidadosamente em árvores, a poucos quilômetros da caverna – sempre a mesma árvore, ou algumas árvores repetidamente. Quanto mais velho e pesado o filhote, mais próximo da caverna é a árvore. Enquanto estão buscando alimento, elas voltam algumas vezes à árvore, para checar como seus bebês estão, talvez amamentá-los e aquecê-los. Trabalho terminado, carregam os filhotes de volta para casa.

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Com oito a dez semanas de idade, os morcegos passam a voar sozinhos para os mesmo locais que suas mães os deixavam durante a noite e voltam à caverna ao amanhecer. Eles começam a ganhar independência, mas as mães continuam a fazer o check-in nas árvores.

À medida que os morcegos ficam mais velhos, eles passam a usar essas árvores como pontos de partida para exploração independente dos arredores, à procura de novas árvores frutíferas. Os pesquisadores também descobriram que esses locais reduzem a exposição dos filhotes a predadores. 

Os resultados indicam que as mães investem energia em comportamentos específicos, e que os filhotes aprendem a partir disso. Os autores não usam a palavra “ensino”, porque isso pressupõe que há uma intenção – o que é difícil de verificar nos animais, já que não dá para questioná-los sobre isso.

A equipe ainda não sabe exatamente como o aprendizado acontece. “Uma das partes mais malucas do estudo é que os filhotes aprendem enquanto estão presos de cabeça para baixo”, afirma a pesquisadora Lee Harten. Uma aposta é a visão: talvez eles mantenham os olhos abertos durante o voo e fiquem coletando informações enquanto são transportados passivamente.

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