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Nasce bebê com DNA de um pai e duas mães

A criança grega não é a primeira a ter o material genético de três pessoas diferentes. Mas o motivo pelo qual foi concebido levantou polêmicas entre pesquisadores.

Por Maria Clara Rossini
11 abr 2019, 18h42

Não é tão difícil ter três pais. Eles podem ser pais por consideração ou mesmo adotivos. Mas três pais biológicos… É um pouco mais complicado. Nasceu na Grécia uma criança que possui fragmentos do DNA de duas mães e um pai. Esse foi o primeiro uso da técnica para o tratamento de infertilidade.

A mãe que deu a luz ao bebê é infértil e já tinha passado por quatro outras tentativas de fertilização in vitro – todas foram mal sucedidas devido a baixa qualidade de seus óvulos. A solução? Pegar emprestado o óvulo de outra mulher. Segundo o Institute of Life, o bebê nasceu com 2,9 quilos e tanto ele quanto a mãe passam bem.

Bem, mas como os médicos conseguiram tal façanha? Vamos à técnica. O núcleo do óvulo de uma mulher infértil – a primeira mãe – foi retirado e implantado no óvulo de uma outra mulher fértil – a segunda mãe. Depois disso, o espermatozoide do pai fertilizou o óvulo híbrido, o qual foi, por fim, colocado no útero da primeira mãe. Tudo isso foi feito manualmente, em laboratório. 

O núcleo contém a grande maioria de nossos genes, cerca de 99,8%. O problema é que o restinho dessa porcentagem está na mitocôndria – a usina de energia da célula, que fica fora do núcleo. Ou seja: quando a mãe pegou emprestado o óvulo de outra mulher, ela ganhou, por tabela, as mitocôndrias dela. E, por tabela, a pequena parcela de DNA que se esconde nelas. 

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Resumindo: a maior parte dos genes do recém-nascido são da primeira mãe e do pai, mas ele ainda possui um pouquinho dos genes do “óvulo de aluguel”, o da segunda mãe. E é assim que nasce um bebê com DNA de três pessoas diferentes.

Ele não foi o primeiro a ser concebido por meio dessa técnica. Esse posto fica para um bebê nascido no México em 2016. Sua mãe era fértil, mas tinha problemas genéticos em suas mitocôndrias que não queria transmitir ao filho. A técnica de transferência nuclear, como é chamada, foi criada justamente para esse propósito, e não para o tratamento de infertilidade. E isso preocupa a comunidade científica.

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Por ser uma técnica recente, ainda não se sabe ao certo quais são os riscos para as crianças a longo prazo. Testes feitos em animais já revelaram que pode haver uma incompatibilidade entre o material genético das duas mães, resultando em envelhecimento precoce ou metabolismo alterado e obesidade.

O pesquisador Tim Child, da clínica de fertilização da Universidade de Oxford, diz que os riscos são aceitáveis apenas em casos de doenças mitocondriais, que podem ser fatais. No caso de mulheres que não possuem tais problemas, ele defende que elas devem continuar tentando os métodos alternativos de inseminação.

O instituto que realizou o procedimento tratou o acontecimento como uma revolução. “Esse resultado excepcional irá ajudar inúmeras mulheres a realizar o sonho de se tornarem mães com seu próprio material genético”, disse Nuno Costa-Borges, colaborador do projeto.

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Promissor ou não, só a ciência dirá.

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