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Nasce primeiro bebê do Reino Unido com o DNA de três pessoas

A maior parte é dos pais "originais" – e apenas 0,1% do DNA é da terceira pessoa. Entenda como funciona o Tratamento de Doação Mitocondrial.

Por Leo Caparroz
Atualizado em 15 Maio 2023, 15h38 - Publicado em 10 Maio 2023, 20h21

Uma criança britânica nasceu com o DNA de três pessoas. A partir de uma fertilização in vitro, pesquisadores aplicaram um procedimento que visa impedir que o bebê herde doenças incuráveis. A criança ainda tem grande parte do DNA dos pais “originais” – só 0,1% é da terceira pessoa, que equivale ao seu DNA mitocondrial.

Você já deve ter ouvido falar que todas as suas mitocôndrias vieram da sua mãe. As mitocôndrias do espermatozoide são destruídas na fertilização, e só sobram as vindas do óvulo. As mitocôndrias são especiais, já que, além de serem a fonte de energia das células, elas também possuem um “DNA próprio”. Esse genoma mitocondrial é diferente do encontrado no núcleo e se replica independentemente do ciclo da célula.

Como as suas mitocôndrias vieram só da mãe, seu DNA mitocondrial será igual ao dela – que é o mesmo da sua avó, bisavó e assim por diante

(Vale ressaltar que essa herança materna das mitocôndrias nem sempre é absoluta. Um estudo de 2018 afirmava ter encontrado vestígios de DNA mitocondrial do pai em um filho. Segundo pesquisadores, isso sugere que, às vezes, pedaços de DNA mitocondrial vão parar no núcleo do espermatozoide e são herdados pelas crianças. Contudo, em geral, a regra ainda é válida.)

O problema é que, se sua mãe te passar mitocôndrias defeituosas, não tem escapatória. Doenças mitocondriais são incuráveis e podem ser fatais para recém-nascidos, afetando alguns dos tecidos que consomem muita energia, como o cérebro, o coração, os músculos e o fígado.

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A técnica de “transplante” de DNA mitocondrial funciona assim: pesquisadores pegam um óvulo da mãe (que já foi fertilizado pelo espermatozoide do pai), tiram o material genético lá de dentro e reservam. Depois, eles pegam o óvulo de uma doadora e também tiram o material genético – que, dessa vez, é destruído. Sobra só o óvulo da doadora, que possui mitocôndrias e seu DNA mitocondrial. Então, eles pegam o núcleo que foi fecundado e colocam no óvulo da doadora, formando um zigoto novo e com mitocôndrias saudáveis que será implantado no útero da mãe.

Essa é a parcela de DNA de terceiros que a criança tem, só o DNA mitocondrial – o que não é suficiente para alterar a aparência dela, por exemplo.

A técnica, chamada de Tratamento de Doação Mitocondrial (MDT), foi iniciada no Reino Unido por médicos do Newcastle Fertility Centre, visando ajudar mulheres com mitocôndrias mutantes a terem filhos sem o risco de transmitir essas doenças genéticas.

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Para as mulheres afetadas, os métodos naturais podem ser um tiro no escuro – alguns bebês podem herdar apenas uma pequena parte das mitocôndrias defeituosas, mas outros podem herdar muito mais e desenvolver doenças graves, progressivas e muitas vezes fatais.

O progresso da técnica fez com que o parlamento britânico mudasse a lei, em 2015, para permitir o procedimento. A clínica de Newcastle é o primeiro e único centro licenciado pela Autoridade de Fertilização e Embriologia Humana (HFEA) do país para realizá-lo.

Para evitar que a confidencialidade dos pacientes fosse comprometida, os médicos da clínica se limitaram a afirmar que um pequeno número de bebês britânicos já nasceram a partir da técnica – segundo eles, “menos de cinco”.

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A clínica de Newcastle pode ser a referência para o procedimento, mas não é o primeiro a administrá-la com sucesso. Em 2016, um médico americano anunciou o primeiro nascimento por MDT do mundo após tratar uma mulher jordaniana que havia tido quatro abortos espontâneos e dois filhos que morreram novos.

“O MDT oferece às famílias com doenças mitocondriais hereditárias graves a possibilidade de uma criança saudável”, afirma Peter Thompson, executivo-chefe da HFEA. “O Reino Unido foi o primeiro país do mundo a permitir a MDT dentro de um ambiente regulatório. Ainda é cedo para a MDT e o HFEA continua revisando os desenvolvimentos clínicos e científicos.”

Publicações acadêmicas oficiais do marco estão passando pelo processo de revisão científica.

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