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No ninho deste pássaro estão 30 anos de lixo humano

Cientistas analisaram o ninho de pássaros que vivem nos canais de Amsterdam – e descobriram minicápsulas do tempo que registram a evolução da nossa poluição.

Por Bruno Carbinatto
12 abr 2025, 14h00

Há 30 anos, alguém comeu um hambúrguer em Amsterdã – e não jogou a embalagem na lixeira. Nos próximos 30 anos, o objeto descartado virou matéria-prima para uma casa de passarinho.

Cientistas da Universidade de Leiden, na Holanda, analisaram o ninho abandonado de um galeirão-comum (Fulica atra), um pássaro preto e branco que costuma viver na água, construído em um canal de Amsterdã. O que a equipe descobriu é que a casa da ave funciona como uma minicápsula do tempo, preservando lixo produzido por humanos das últimas três décadas.

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Os pesquisadores encontraram centenas de embalagens e outros itens descartados, a maioria relacionada a comidas e bebidas. Como o plástico não se desintegra nunca, as camadas dos ninhos preservaram diferentes “levas” de lixo, já que os pássaros constroem uma nova camada a cada temporada de acasalamento.

Fotografia do lixo do ninho do galeirão.
(Ecology (2025)/Reprodução)
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A segunda etapa foi tentar datar de quando eram aqueles itens. Os cientistas analisaram cuidadosamente cada embalagem, em busca de pistas como data de fabricação ou promoções e anúncios específicos (uma embalagem de chocolate continha uma referência à Copa do Mundo de 1994, por exemplo). Na falta disso, fizeram estimativas de quando a comida foi consumida com base nas datas de validade dos alimentos.

A conclusão foi que o lixo mais antigo do ninho datava do intervalo 1991 a 1994. Como o estudo começou em 2021, são 30 anos de preservação. Outros ninhos abandonados também foram estudados, e todos continham lixo, mas nenhum tão antigo quanto esse. O artigo foi publicado na revista científica Ecology.

Nas camadas, foi possível observar a evolução e as mudanças nos padrões da poluição humana. Por exemplo: nas partes mais recentes, de 2020 para frente, os cientistas encontraram diversas máscaras descartáveis, por motivos para lá de óbvios.

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Imagem das datas de validade em embalagens de alimentos usadas como material de nidificação revelando aa idade do ninho do galeirão.
(Ecology (2025)/Reprodução)

O uso do plástico é, ao mesmo tempo, uma vantagem e uma desvantagem para esses pássaros urbanos. Seus primos da selva constroem ninhos apenas de plantas, o que significa que não podem ser reutilizados, já que se desfazem rapidamente. A cada temporada de acasalamento, portanto, os bichos tem que voltar à labuta para garantir um lar.

Já para um galeirão-comum da cidade grande, a vida é mais fácil: basta adicionar mais uma camada no ninho duradouro, graças ao plástico. Tanto que os pesquisadores estimam que, num dos ninhos, pelo menos três gerações diferentes de pássaros viveram por ali.

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Por outro lado, os ninhos duradouros têm mais chances de conter parasitas, como o bicho-de-galinha (Dermanyssus gallinae). E ninhos com muito plástico aumentam as chances dos pássaros se enroscarem e se machucarem, às vezes até fatalmente.

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